NucleoBlog
Indústria, Medicina Nuclear e Transportes

O que fazer quando uma fonte radioativa é roubada?

Por Bruna em 27/05/2025 às 10:15

Compartilhe:  

O roubo ou extravio de fontes radioativas é um evento raro, mas que exige resposta imediata e coordenada para mitigar riscos à saúde pública e ao meio ambiente. No Brasil, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) é o órgão responsável por regular e fiscalizar atividades envolvendo materiais radioativos.

  1. Comunicação imediata às autoridades competentes

Ao identificar o desaparecimento de uma fonte radioativa, a primeira ação deve ser a notificação imediata à CNEN e às autoridades policiais locais. A CNEN disponibiliza canais de contato para emergências: (21) 98368-0734 e (21) 98368-0763. É fundamental fornecer informações detalhadas sobre o material desaparecido, incluindo tipo, atividade, número de série e condições de transporte.

  1. Avaliação do risco radiológico

A CNEN classifica as fontes radioativas conforme o risco associado, de acordo com o Código de Conduta em Segurança de Fontes Radioativas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Por exemplo, uma fonte de Germânio/Gálio (68Ge/68Ga) com atividade de aproximadamente 30 mCi é considerada de categoria 4, representando risco radiológico muito baixo para a população e o meio ambiente.

  1. Ações de busca e recuperação

Após a notificação, a CNEN coordena operações de busca e recuperação do material. Em um caso ocorrido em São Paulo, em junho de 2024, uma fonte de 68Ge/68Ga foi furtada junto com o veículo que a transportava. A CNEN, em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), localizou a fonte intacta em um ferro-velho na zona leste da cidade, encerrando a ocorrência sem riscos de contaminação.

 

 

  1. Medidas preventivas e protocolos de segurança

Empresas que manipulam ou transportam materiais radioativos devem seguir rigorosamente os protocolos de segurança estabelecidos pela CNEN, incluindo:

  • Treinamento de pessoal em radioproteção.
  • Uso de embalagens adequadas e sinalizadas com o símbolo internacional de radiação ionizante.
  • Manutenção de registros atualizados das fontes.
  • Planos de emergência e comunicação eficaz com as autoridades.

No caso mencionado, o furto ocorreu devido a uma falha no protocolo de segurança, quando o motorista estacionou o veículo em local não autorizado, facilitando o roubo.

 

  1. Lições aprendidas e importância da conscientização

Incidentes como o de Goiânia, em 1987, onde uma fonte de césio-137 foi manipulada indevidamente, resultando em mortes e contaminação de centenas de pessoas, ressaltam a importância da conscientização sobre os riscos associados a materiais radioativos. Embora as fontes utilizadas atualmente em medicina nuclear apresentem riscos significativamente menores, a manipulação inadequada ainda pode causar danos à saúde.

A resposta rápida e coordenada a incidentes envolvendo fontes radioativas é essencial para garantir a segurança pública. A adesão rigorosa aos protocolos de segurança, o treinamento contínuo de profissionais e a conscientização da população são pilares fundamentais na prevenção e mitigação de riscos associados a materiais radioativos.

Texto elaborado por Letícia Fröhlich – Física Médica NUCLEORAD

 

Referências:

  1. BRASIL. Comissão Nacional de Energia Nuclear. CNEN NN 5.01: Transporte de materiais radioativos. Rio de Janeiro: CNEN, 2013.
  2. BRASIL. Comissão Nacional de Energia Nuclear. CNEN NN 5.04: Requisitos de segurança e proteção radiológica para o serviço de transporte de materiais radioativos. Rio de Janeiro: CNEN, 2014.
  3. BRASIL. Comissão Nacional de Energia Nuclear. CNEN NN 2.05: Licenciamento de instalações radiativas. Rio de Janeiro: CNEN, 2010.
  4. BRASIL. Comissão Nacional de Energia Nuclear. CNEN NE 6.05: Requisitos de proteção radiológica para o transporte de fontes seladas. Rio de Janeiro: CNEN, 1985.
  5. INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY. Regulations for the safe transport of radioactive material: 2018 edition. Vienna: IAEA, 2018. (IAEA Safety Standards Series, SSR-6)