NucleoBlog
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Outubro Rosa: Por que a mamografia de qualidade salva vidas – e como a Física Médica contribui com isso

Outubro é o mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama, uma das doenças que mais afetam mulheres em todo o mundo. Mais do que um laço rosa ou uma campanha nas redes sociais, esse é um período fundamental para reforçar a importância do diagnóstico precoce, e a mamografia é a principal ferramenta nesse processo. Mas nem toda mamografia é igual. Para que o exame realmente identifique alterações com precisão, é essencial que a imagem tenha qualidade diagnóstica. E é aí que entra um aspecto pouco falado, mas essencial: o controle de qualidade da imagem, conduzido por profissionais da física médica.   A importância da imagem certa na hora certa A mamografia é um exame sensível, que pode detectar lesões milimétricas antes mesmo de serem palpáveis. No entanto, para que isso aconteça, a imagem precisa ter contraste adequado, nitidez, e ser obtida com a menor dose possível de radiação.Problemas como baixa resolução, artefatos na imagem ou parâmetros técnicos mal ajustados podem comprometer o diagnóstico. Em outras palavras, uma imagem de má qualidade pode atrasar a descoberta da doença, ou até gerar falsos diagnósticos médicos.   O papel da Física Médica Físicos médicos são profissionais especializados em garantir a segurança e a qualidade dos exames de imagem. Eles realizam testes periódicos em equipamentos de mamografia para verificar se tudo está funcionando corretamente, desde a produção de raios X até os sistemas de detecção digital, monitores e impressoras. Além disso, avaliam se a dose de radiação está dentro dos limites recomendados, garantindo que a paciente seja exposta ao mínimo necessário para uma boa imagem.   Empresas como a NUCLEORAD: parceiras da qualidade Empresas especializadas em física médica, como a NUCLEORAD, prestam serviços essenciais para clínicas, hospitais e centros de diagnóstico por imagem. Elas realizam o controle de qualidade em mamografia, emitindo relatórios técnicos, identificando possíveis falhas nos equipamentos e orientando correções. Esse trabalho é silencioso, mas vital. Sem ele, não há como garantir que o exame que chega ao radiologista — e, por consequência, à paciente — seja realmente confiável. Outubro Rosa é também sobre responsabilidade técnica! Mais do que incentivar as mulheres a realizarem a mamografia, precisamos garantir que elas recebam exames seguros e de alta qualidade. Os físicos da NUCLEORAD são parte silenciosa, mas essencial do cuidado: comprometidos com a excelência do radiodiagnóstico médico, para que cada imagem seja um passo seguro na prevenção e no tratamento do câncer de mama. Durante o outubro Rosa, vale lembrar: a prevenção começa com informação, mas só se concretiza com qualidade no cuidado.   Texto elaborado por Samara – Física Médica NUCLEORAD Referências: BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério da Saúde garante acesso à mamografia a partir dos 40 anos. Brasília, 2025. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2025/setembro/ministerio-da-saude-garante-acesso-a-mamografia-a-partir-dos-40-anos. Acesso em: 9 out. 2025.      

Por Bruna em 10/10/2025 às 10:27
Eventos e Notícias
Ciência que conecta: NUCLEORAD no 29º Congresso Brasileiro de Física Médica

Os congressos de Física Médica não são encontros comuns — são ambientes onde ideias, pessoas e descobertas se cruzam para gerar impacto real. Para um país em que a Física Médica ainda tem enorme espaço para crescer, essas ocasiões representam oportunidades de catalisar mudanças profundas nos serviços de saúde, nas pesquisas e no fortalecimento institucional. O 29º Congresso Brasileiro de Física Médica (CBFM), promovido pela ABFM, acontece de 1 a 4 de outubro de 2025, em São Paulo/SP, no Centro de Convenções Rebouças. (congressoabfm.com.br). A programação é ampla e dinâmica: palestras com especialistas nacionais e internacionais, arenas temáticas (Arena CBFM), simpósios satélites, sessões interativas, atividades de pré-congresso e apresentação de trabalhos científicos Mais que conhecimento: networking de qualidade: É durante essas interações — nos corredores, nas sessões e nos momentos informais — que os grandes saltos acontecem. Fazer contatos, trocar experiências e criar parcerias são estratégias essenciais para acelerar a aplicação de descobertas científicas no sistema de saúde. Quando distintos grupos (acadêmicos, clínicos, industriais, regulatórios) dialogam, problemas que pareciam isolados ganham uma abordagem integrada. A Física Médica brasileira precisa justamente disso: impulso coletivo, infraestrutura, intercâmbio e visibilidade nacional e internacional. E eventos como o CBFM são palcos onde esses ingredientes se combinam. A NUCLEORAD estará presente no congresso, e no sábado, dia 04/10, vai apresentar o trabalho “Ações Educativas em Física Médica: Relato de Seminário em Ambiente Hospitalar”. Será uma oportunidade de mostrar como iniciativas educativas também são parte fundamental para fortalecer a Física Médica no Brasil e ampliar o alcance da área junto à comunidade hospitalar. Se você estiver no evento, procure nosso cartaz — vamos adorar trocar ideias, compartilhar experiências e construir juntos o futuro da Física Médica.   Texto elaborado por Eduardo Berna – Estagiário NUCLEORAD      

Por Bruna em 02/10/2025 às 11:12
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Diagnóstico precoce: Brasil reforça rastreamento do câncer de mama

A mamografia é considerada o principal exame de rastreamento do câncer de mama. Ela permite identificar alterações como nódulos, cistos e espessamentos do tecido antes de sinais clínicos. Quando há suspeita, pode ser indicada biópsia para confirmar o diagnóstico. A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) já defendia a realização anual do exame a partir dos 40 anos. Em 2024, mais de 30% das mamografias realizadas no país foram em mulheres abaixo dos 50 anos, segundo o Ministério da Saúde. O Ministério da Saúde vai garantir o acesso a mamografia no SUS a mulheres de 40 a 49 anos mesmo sem sinais ou sintomas de câncer. Essa faixa etária concentra 23% dos casos da doença e a detecção precoce aumenta as chances de cura. A medida faz parte de um conjunto de ações voltadas à melhoria do diagnóstico e assistência, com início do atendimento móvel em 22 estados e da  oferta de medicamentos mais modernos.  A recomendação para as mulheres a partir dos 40 anos é que o exame seja feito sob demanda, em decisão conjunta com o profissional de saúde. A paciente deve ser orientada sobre os benefícios e desvantagens de fazer o rastreamento. Terminar Mulheres nesta idade tinham dificuldade com o exame na rede pública de saúde por conta da avaliação de histórico familiar ou necessidade de já apresentar sintomas. Apesar disso, as mamografias no SUS em pacientes com menos de 50 anos representam 30% do total, equivalente a mais de 1 milhão em 2024. Outra medida é a ampliação da faixa etária para o rastreamento ativo, quando a mamografia deve ser solicitada de forma preventiva a cada dois anos. A idade limite, que até então era de 69 anos, passará a ser até 74 anos. Quase 60% dos casos da doença estão concentrados dos 50 aos 74 anos e o envelhecimento é um fator de risco para o câncer de mama.  A ampliação do acesso à mamografia aproxima o Brasil de práticas internacionais, como as adotadas na Austrália, e reforça o compromisso em garantir diagnóstico precoce e cuidado integral às mulheres brasileiras. O câncer de mama é o mais comum e o que mais mata mulheres, com 37 mil casos por ano.  Esses números refletem a manutenção de uma ampla cobertura no país, reforçando a importância do rastreamento e do diagnóstico precoce do câncer de mama para salvar vidas e garantir mais qualidade na atenção à saúde das mulheres. Texto elaborado por Bruna Lovato - Física Médica NUCLEORAD   REFERÊNCIAS: [1] Ministério da Saúde. Ministério da Saúde garante acesso a mamografia a partir dos 40 anos. Brasília, 23 set. 2025. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2025/setembro/ministerio-da-saude-garante-acesso-a-mamografia-a-partir-dos-40-anos. Acesso em: 24 de setembro de 2025.    

Por Bruna em 26/09/2025 às 07:34
Eventos e Notícias
O Acidente Radiológico de Goiânia: Lições que Não Podemos Esquecer

No último sábado, 13 de setembro de 2025, o acidente radiológico de Goiânia completou 38 anos. Esse episódio, ocorrido em 1987, continua sendo lembrado como o maior acidente radiológico já registrado em área urbana, trazendo graves consequências para a saúde pública e marcando definitivamente a história da proteção radiológica no Brasil. Como tudo começou: O acidente teve origem quando um aparelho de radioterapia abandonado em uma clínica desativada foi desmontado por catadores de materiais recicláveis. Dentro do equipamento havia uma cápsula com cloreto de césio-137, que emitia uma intensa radiação gama.A substância, que tinha um brilho azul atraente no escuro, foi manuseada e distribuída entre familiares e vizinhos, sem que ninguém soubesse do perigo que representava.Vale destacar que o césio-137 possui meia-vida de cerca de 30 anos, o que significa que levará aproximadamente três décadas para que metade de sua radioatividade seja reduzida. Isso explica a necessidade de cuidados prolongados com os resíduos do acidente. Consequências imediatas: Nos dias seguintes, várias pessoas começaram a apresentar sintomas como vômitos, queimaduras e queda de cabelo. Ao todo, quatro pessoas morreram em decorrência da exposição: - Leide das Neves Ferreira, 6 anos. - Maria Gabriela Ferreira, 37 anos. - Israel Baptista dos Santos, 22 anos. - Admilson Alves de Souza, 18 anos. A história de Leide das Neves: Leide, uma criança de apenas 6 anos, foi a vítima-símbolo do acidente. Encantada com o brilho azul do pó de césio-137, ela brincou com a substância radioativa, passando-a na pele como se fosse maquiagem. Além disso, levou as mãos contaminadas à boca enquanto se alimentava, ingerindo parte do material.O contato intenso levou a uma exposição interna e externa extremamente elevada, causando graves queimaduras, queda de cabelo, diarreia, vômitos e uma forte depressão da medula óssea. Mesmo com tratamento intensivo em hospital de referência, Leide não resistiu, falecendo em 23 de outubro de 1987, cerca de 40 dias após o acidente. Efeitos determinísticos observados: No acidente de Goiânia, várias vítimas apresentaram efeitos determinísticos da exposição à radiação ionizante, ou seja, efeitos que só aparecem após a superação de uma dose-limiar e cuja gravidade aumenta conforme a dose recebida. Entre os principais registrados estavam: - Síndrome aguda da radiação, com náuseas, vômitos e fraqueza intensa. - Eritema (vermelhidão da pele) seguido de queimaduras radiogênicas graves. - Necrose tecidual em áreas de contato direto com o pó de césio-137. - Queda de cabelo (epilação) temporária ou permanente. - Aplasia medular, com queda acentuada das células do sangue, levando a imunossupressão e infecções fatais.Esses efeitos se diferenciam dos efeitos estocásticos, como o câncer, que podem aparecer anos ou décadas após a exposição, sem uma dose-limiar definida. O destino dos resíduos: Além das mortes e do sofrimento humano, o acidente deixou um enorme passivo ambiental. Mais de 3.500 toneladas de entulhos, objetos e resíduos radioativos foram removidos das áreas afetadas e enterrados em depósitos especialmente construídos em Abadia de Goiás, onde permanecem sob monitoramento até os dias atuais. Lições para a proteção radiológica: O acidente de Goiânia mostrou de forma trágica a importância da gestão segura de fontes radioativas. Entre as principais lições, destacam-se: - A necessidade de controle rigoroso e rastreamento de equipamentos radiológicos. - A importância de treinamento e conscientização da população sobre os riscos da radiação. - O papel essencial da vigilância sanitária e órgãos reguladores para prevenir situações semelhantes. Passados 38 anos, o acidente de Goiânia permanece como um alerta permanente. Ele reforça que a proteção radiológica não é apenas uma exigência técnica, mas sim uma questão de saúde pública e responsabilidade social.    Texto elabora por Otávio Augusto de Sousa Barbosa - Físico Médico NUCLEORAD   Referências: [1]Unifan. Acidente com o Césio-137 em Goiânia completa 35 anos e a Unifan fala sobre os impactos e lições. UNIFAN, 14 de setembro de 2022. Disponível em: https://www.unifan.edu.br/noticias/acidente-com-o-cesio-137-em-goiania-completa-35-anos-e-a-unifan-fala-sobre-os-impactos-e-licoes/ unifan.edu.br [2]UOL Notícias. Os 30 anos do acidente radioativo do Césio-137. UOL, 10 de setembro de 2017. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/album/mobile/2017/09/10/os-30-anos-do-acidente-radioativo-do-cesio-137.htm      

Por Bruna em 16/09/2025 às 11:17
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
A Importância do Controle de Qualidade em Monitores de Mamografia

O câncer de mama é a principal causa de morte por neoplasia entre mulheres em todo o mundo. A detecção precoce é determinante para aumentar as taxas de sobrevida, e a mamografia é o melhor método. Contudo, a eficácia desse exame está diretamente relacionada à qualidade de todo o processo de aquisição, processamento e interpretação das imagens. O diagnóstico depende não apenas do sistema de aquisição de imagens, mas também da qualidade de exibição nos monitores utilizados pelos radiologistas. Embora a maior parte das pesquisas enfatize o desempenho dos equipamentos de raios X, o monitor de exibição constitui etapa igualmente crítica. A interpretação radiológica depende da fidelidade com que a imagem é apresentada ao observador, tornando o controle de qualidade desses dispositivos uma exigência essencial.  Características dos Monitores de Mamografia Monitores destinados à interpretação de exames monográficos apresentam especificações técnicas superiores em comparação a monitores de uso geral. A resolução mínima recomendada é de 5 megapixels, o que possibilita a visualização de microcalcificações e detalhes estruturais sutis. Além disso, altos níveis de luminância, contraste adequado, uniformidade da tela e calibração baseada no padrão DICOM GSDF (Grayscale Standard Display Function) são fundamentais para a correta representação das escalas de cinza.  Metodologia de Controle de Qualidade Os programas de qualidade em monitores de mamografia envolvem avaliações periódicas com diferentes níveis de complexidade:  verificação de padrões de contraste, luminância e detecção de artefatos. análise de resolução espacial, uniformidade da tela e resposta da escala de cinza. ajuste do monitor para manter conformidade com a função GSDF. Essas avaliações devem ser documentadas e acompanhadas ao longo do tempo, permitindo a detecção precoce de degradações que possam comprometer o diagnóstico. A ausência de controle de qualidade compromete a acurácia diagnóstica da mamografia. Monitores degradados reduzem a percepção de microcalcificações e distorções arquiteturais, aumentando tanto o risco de falsos-negativos, que atrasam o tratamento, quanto de falsos-positivos, que geram ansiedade e exames desnecessários. Diversas entidades internacionais, como o American College of Radiology (ACR) e a European Reference Organisation for Quality Assured Breast Screening and Diagnostic Services (EUREF), além da ANVISA no Brasil, estabelecem normas técnicas e protocolos de controle de qualidade específicos para monitores de mamografia. A adesão a esses protocolos é também requisito em programas de acreditação em diagnóstico por imagem.   O monitor de exibição constitui parte fundamental do sistema de mamografia, desempenhando papel tão relevante quanto o detector de raios X. A implementação de programas de controle de qualidade rigorosos garante diagnósticos mais confiáveis, otimiza a detecção precoce do câncer de mama e contribui diretamente para a redução da mortalidade. Assim, investir em qualidade de monitores de mamografia é investir em saúde pública e segurança das pacientes.   Tiago Langone – Físico Médico NUCLEORAD   Referências [1]World Health Organization. Breast cancer: early diagnosis and screening. Geneva: WHO, 2023. American College of Radiology (ACR). Mammography Quality Control Manual. Reston, VA: ACR, 2018.EUREF. European guidelines for quality assurance in breast cancer screening and diagnosis. 4th ed. Luxembourg: Office for Official Publications of the European Communities, 2019. [2]Samei, E., & Flynn, M. J. "A method for in-field evaluation of the modulation transfer function of digital radiographic systems using an edge test device." Medical Physics, 2003. [3]Yaffe, M. J., & Mainprize, J. G. "Digital mammography: Lessons from digital radiography." Radiology, 2020. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução RDC nº 611/2022: Requisitos de Boas Práticas para Serviços de Mamografia. Brasília: ANVISA, 2022.      

Por Bruna em 11/09/2025 às 11:46
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Raio X: do convencional para a alta energia e alta tecnologia empregadas na Física Médica

A geração de radiação ionizante tem uma longa trajetória dentro da Física Médica. Desde a descoberta dos raios X por Wilhelm Conrad Roentgen em 1895, a ideia central sempre foi a mesma: acelerar elétrons a altas velocidades e fazê-los colidir contra um alvo de alto número atômico, convertendo parte da energia cinética em fótons. Porém, a forma de realizar essa aceleração e os limites energéticos possíveis mudaram radicalmente ao longo das décadas.[1] Nos tubos de raios X convencionais, essa produção acontece em um sistema relativamente simples: um cátodo aquecido libera elétrons por emissão termoiônica, que são acelerados em direção a um ânodo por meio de uma alta diferença de potencial. O alvo, geralmente de tungstênio, é escolhido por seu alto número atômico e ponto de fusão, características que o tornam eficiente e resistente ao intenso calor. Quando os elétrons colidem com o alvo, dois processos principais ocorrem: o bremsstrahlung, também chamado de radiação de freamento, e a emissão de raios X característicos, que resultam da reorganização eletrônica do material-alvo. O detalhe fundamental é que, nesse arranjo, a energia máxima dos fótons não pode ultrapassar a tensão aplicada entre cátodo e ânodo. Ou seja, se o tubo opera a 120 kV, nenhum fóton terá energia maior que 120 keV. Aumentar o kV parece, à primeira vista, uma solução óbvia para obter radiações mais penetrantes, mas logo surgem limitações técnicas: o aquecimento do alvo aumenta perigosamente, o isolamento elétrico do tubo torna-se complexo e o rendimento global continua baixo, já que menos de 1% da energia se converte em radiação útil.[1][2] Para superar esse teto tecnológico, a solução foi recorrer a um princípio diferente de aceleração, que se materializou nos aceleradores lineares, conhecidos como LINACs. Em vez de confiar em uma única diferença de potencial, os LINACs empregam cavidades de radiofrequência que funcionam como ondas eletromagnéticas estacionárias. Os elétrons são injetados nesse campo e passam a interagir com as ondas como surfistas que aproveitam a crista de cada onda do mar, ganhando velocidade e energia a cada cavidade atravessada. Dessa forma, elétrons que partem de energias modestas da ordem de dezenas de keV chegam rapidamente à faixa dos MeV, milhões de elétron-volts, valores inalcançáveis por tubos convencionais.[3] O coração desse processo está nos dispositivos que geram ou amplificam as ondas: o magnetron, que atua como um oscilador de alta potência e produz micro-ondas pulsadas na casa dos 3.000 MHz, e o klystron, um amplificador que utiliza feixes de elétrons modulados em velocidade para aumentar a potência da onda. Ambos alimentam a estrutura aceleradora, um tubo de cobre subdividido em cavidades ressonantes, onde ocorre a “surfada” dos elétrons. No final do percurso, o feixe já possui energia suficiente para, ao atingir um alvo metálico, produzir fótons de bremsstrahlung na faixa da megavoltagem. Enquanto nos tubos diagnósticos se trabalha com fótons de até algumas centenas de keV, nos LINACs os fótons podem chegar a energias médias de 2 a 6 MeV, extremamente mais penetrantes.[3]   Esse salto energético transformou a prática clínica e expandiu aplicações muito além da radiologia convencional. Na oncologia, os aceleradores lineares possibilitam tratar tumores profundos de forma eficaz, já que os fótons de megavoltagem interagem principalmente por efeito Compton em tecidos moles, permitindo um controle muito mais refinado da distribuição de dose. Isso abriu espaço para técnicas como IMRT, em que a intensidade do feixe é modulada para poupar tecidos sadios, e VMAT, em que a radiação é entregue de forma contínua durante a rotação do equipamento.[3] Outra aplicação fundamental está na produção de radiofármacos. Aceleradores como LINACs(Exemplo na imagem abaixo) e cíclotrons são capazes de bombardear alvos específicos e induzir reações nucleares que resultam em radionuclídeos de meia-vida curta, que se ligam a moléculas de interesse biológico. É o caso do flúor-18, utilizado na síntese do FDG, o radiofármaco mais difundido nos exames de PET-CT, capaz de mapear o metabolismo da glicose e identificar tecidos tumorais com alta atividade metabólica. Outros exemplos incluem o iodo-123, empregado em cintilografias da tireoide, o gálio-67, usado em investigações inflamatórias e oncológicas, e o tálio-201, importante em exames de cardiologia nuclear. Sem os aceleradores, esses radioisótopos não poderiam ser produzidos em tempo hábil para uso clínico, já que seu curto tempo de meia-vida exige proximidade com os centros médicos.[3] Os benefícios não se limitam à área médica. Aceleradores lineares também são utilizados em pesquisas de física fundamental, no desenvolvimento de novos contrastes e radiofármacos, em estudos de interação da radiação com a matéria e até em aplicações industriais, como a esterilização de materiais médicos ou a análise de estruturas cristalinas.[3] Se, no início, a solução parecia ser apenas aumentar o kV aplicado em um tubo de raios X, a evolução tecnológica mostrou que era preciso ir além. Hoje, ao transformar elétrons em surfistas de ondas eletromagnéticas dentro de cavidades de radiofrequência, os aceleradores lineares fornecem feixes de fótons de altíssima energia que revolucionaram a radioterapia, sustentam a Medicina Nuclear e ainda ampliam fronteiras da pesquisa e da indústria. A ideia inicial de simplesmente “aumentar o kV” tornou-se uma engenharia sofisticada que mudou para sempre a forma como usamos a radiação em benefício da saúde e do conhecimento humano. Texto elaborado por Eduardo Berna – Estagiário NUCLEORAD  

Por Bruna em 28/08/2025 às 08:48