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Radiologia Médica Odontológica e Veterinária

Quais os testes semanais da tomografia computadorizada e por que fazê-los?

Por tiago em 18/09/2024 às 13:01

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A Instrução Normativa número 93 [1], de maio de 2021, regulamenta o uso do equipamento de tomografia computadorizada no Brasil. Este documento apresenta os testes de controle de qualidade que devem ser realizados no tomógrafo e a periodicidade deles. A maioria dos testes possui uma periodicidade anual. No entanto, existem três testes específicos que devem ser realizados semanalmente: a exatidão do número de CT, a uniformidade do número de CT e o ruído. Estes são testes semanais porque, além de serem simples de executar, são também avaliações que permitem identificar algum problema maior no equipamento a partir da avaliação da imagem. Ou seja, são ferramentas importantes de qualidade de imagem que possibilitam prever o comportamento do tomógrafo.

Tanto a exatidão do número de CT, quanto a uniformidade da imagem e o ruído são realizados por meio da análise da imagem gerada de um phantom que a própria fabricante do equipamento de tomografia fornece. Para entendermos bem o que significa cada um dos testes, precisamos introduzir brevemente o conceito de número de CT. Número de CT ou unidades Hounsfield (HU, do inglês Hounsfield Unit) representa uma tradução em escalas de cinza da atenuação tecidual ocorrida a partir da interação do feixe com o tecido. Para isto, a água é utilizada como referência. Ou seja, é uma escala que compara as atenuações dos diferentes tecidos com a atenuação oferecida pela água (equação 1).

               (equação 1)

Onde μágua  é o coeficiente de atenuação da água e μmaterial  é o coeficiente de atenuação do material.

Desta forma, é possível estabelecer o valor da grandeza número de CT levando em consideração os coeficientes de atenuação dos distintos tecidos e da própria água [2]. Uma vez determinado o valor teórico desta grandeza, a comparação com o valor medido permite estabelecer a relação de exatidão: quantos porcentos o valor medido varia em relação ao valor nominal?

Diversos materiais podem ser utilizados para avaliar a exatidão do número de CT (e de fato são utilizados nos testes anuais), porém semanalmente a avaliação é feita apenas com dois materiais, que são a água e o ar. A água possui um valor teórico de número de CT igual a 0, pois é o material de referência. O ar, contudo, possui um valor teórico de número de CT igual a -1000, pois é um material menos denso que a água (e que, portanto, atenua bem menos a radiação ionizante). Isso quer dizer que se fizéssemos um teste com algum material mais denso que a água, teríamos um resultado positivo (como seria o caso de um osso, por exemplo, que deve ter um número de CT superior a +100).

A IN 93 [1] estabelece os níveis de tolerância de exatidão do número de CT para a água e para o ar. A água pode ter um desvio de ± 5 unidades, enquanto o ar deve variar em ± 10 unidades. Isto é, o tomógrafo estará em conformidade se os resultados da água estiverem dentro do intervalo -5 a 5 e do ar, de -990 a -1010.

Os outros testes realizados semanalmente são a uniformidade do número de CT e o ruído. A uniformidade representa a variação que o número de CT medido possui dentro de uma mesma imagem. A figura 1 mostra os locais de medição do número de CT dentro de uma imagem para a avaliação da uniformidade do número de CT e do ruído.

 

Figura 1: as 5 regiões de interesse (ROIs) demarcadas no centro e nas regiões correspondentes às 12h, 15h, 18h e 21h para a avaliação da uniformidade do número de CT e de ruído.

 

A IN 93 determina que, para estar em conformidade, a uniformidade não deve apresentar um desvio superior a 5 HU e o ruído não deve estar acima de 15% do valor de referência, que é estabelecido pela própria fabricante do equipamento e do phantom.

        Os testes semanais são executados e avaliados pelo físico médico. Porém, também é possível que a equipe de física médica treine a equipe técnica para que execute os testes semanais na tomografia e colete os dados, que serão posteriormente analisados pelos físicos médicos. Aqui na nucleorad, por exemplo, temos clientes que foram treinados por nós e que nos enviam semanalmente os dados obtidos, para que avaliemos e registremos em nosso sistema de gestão, o nucleohelp. Assim, sempre que o cliente precisar, no caso de uma inspeção da Vigilância Sanitária, estes documentos estarão disponíveis para ele. 

 

Texto elaborado por físico Bruno Fabricio de Oliveira Lisboa - NUCLEORAD

 

Referencias:

[1] MINISTÉRIO DA SAÚDE/AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA/DIRETORIA COLEGIADA. Instrução Normativa N° 93, de 27 de Maio De 2021. Disponível em: https://www.cevs.rs.gov.br/upload/arquivos/202107/08070428-in932021tomografiacomputadorizada.pdf. Acesso em: 10 set. 2024.

[2] INSTITUTO DE FÍSICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Número de CT. Disponível em: http://astro.if.ufrgs.br/med/imagens/node4.htm. Acesso em: 10 set. 2024.