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Avaliação Diária da Gama Câmara: Entendendo os Parâmetros de Controle de Qualidade

Por Bruna em 21/08/2025 às 14:36

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A Medicina Nuclear é uma área essencial no diagnóstico e acompanhamento de diversas doenças. Entre os equipamentos mais utilizados está a gama câmera, responsável pela aquisição das imagens cintilográficas e tomográficas (SPECT).

Para assegurar que os exames apresentem imagens de alta qualidade e com segurança para pacientes e profissionais, é necessário realizar rotineiramente testes de Controle de Qualidade (CQ). Esses testes seguem diretrizes internacionais, como as recomendações da NEMA (National Electrical Manufacturers Association), e nacionais, como a norma CNEN NN 3.05 – Requisitos de Segurança e Proteção Radiológica para Serviços de Medicina Nuclear.

Os testes diários são obrigatórios nos serviços de Medicina Nuclear, mas interpretar o que está por trás de cada parâmetro é o que garante a verdadeira qualidade da imagem e a segurança do paciente.

De acordo com a norma NEMA NU 1-2018 (específica para gama câmaras) e a CNEN NE 3.05, estes são os principais testes realizados rotineiramente:

  1. Uniformidade (UFOV / CFOV)

Avalia se o detector responde de forma homogênea à radiação.

  • UFOV: Useful Field of View (campo útil total)
  • CFOV: Central Field of View (campo central)

Os principais índices apresentados são:

  • IU%: Integral Uniformity
  • DU%: Differential Uniformity

Alterações podem indicar falhas em PMTs, cristal ou colimador. A imagem deve ser analisada visualmente em paralelo aos dados numéricos.

  1. Pico de energia (Energy Peak / PHA Centerline / Window Width)

Verifica se o sistema está detectando corretamente a energia do radionuclídeo. Exemplo: o pico do 99mTc deve estar em 140 keV, com janela de energia de 20%.

Nos relatórios aparecem:

  • Energy Peak (keV)
  • PHA Centerline
  • Window Width (%)

Desvios comprometem a captação adequada dos fótons, resultando em perda de contagem ou inclusão de eventos espúrios.

  1. Sensibilidade (cps/MBq)

Indica a eficiência do sistema em detectar fótons emitidos por uma determinada atividade.

Apresentada como counts per second (cps) ou cps/MBq.

Quedas podem ser causadas por degradação do cristal, falhas eletrônicas, problemas no colimador ou desalinhamento dos PMTs.

  1. Resolução espacial (FWHM)

É a medida da capacidade do sistema de distinguir dois pontos próximos. Quanto menor o FWHM, melhor a resolução espacial.

Varia conforme tipo de colimador, energia utilizada e estado do equipamento.

  1. Presença de artefatos ou ruídos visuais

Mesmo com valores numéricos dentro dos limites, a imagem do flood deve ser analisada visualmente.

Linhas frias, manchas circulares ou padrões em zigue-zague podem indicar falhas em PMTs, conexões internas, cristal danificado ou distúrbios eletrônicos.

 

  1. Correção de uniformidade (Uniformity Correction Map)

Em equipamentos digitais, são usados mapas de correção para compensar pequenas imperfeições do detector.

Se o mapa estiver desatualizado ou corrompido, pode mascarar falhas reais. Por isso, é essencial revisar periodicamente a uniformidade "raw".

 

  1. Monitoramento de parâmetros complementares

Alguns sistemas realizam verificações automáticas de:

 

  • Background
  • Temperatura e umidade interna
  • Diagnóstico eletrônico
  • Estado do colimador

 

Esses parâmetros também devem ser considerados na avaliação técnica. Executar o controle diário é mais do que uma exigência: é um ponto de partida para decisões técnicas seguras.

 

Esses testes são essenciais, pois:

  • Garantem qualidade diagnóstica e evitam imagens com artefatos.
  • Previnem repetição desnecessária de exames, reduzindo exposição à radiação.
  • Detectam precocemente falhas técnicas no equipamento.
  • Asseguram conformidade com as exigências legais da CNEN NN 3.05.

O Controle de Qualidade diário em gama câmaras é um pilar essencial da Medicina Nuclear. Realizar esses testes regularmente não apenas garante imagens diagnósticas confiáveis, mas também reforça o compromisso da física médica com a segurança radiológica do paciente e a excelência técnica.

 

Texto elaborado por Bruna Lovato – Física Médica NUCLEORAD

 

Referências:

[1] NEMA. Performance Measurements of Gamma Cameras. NEMA Standards Publication NU 1. Rosslyn, VA: National Electrical Manufacturers Association, 2018.

[2] BRASIL. Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). CNEN NN 3.05: Requisitos de Segurança e Proteção Radiológica para Serviços de Medicina Nuclear. Rio de Janeiro: CNEN, 2013.