NucleoBlog

Contribuições da Medicina Nuclear no tratamento do Câncer de Próstata resistente a castração

Por Bruna em 02/01/2025 às 09:50

Compartilhe:  

O câncer de próstata resistente à castração (CPRC) é uma forma agressiva da doença que surge quando as células tumorais continuam a crescer mesmo após a supressão da produção de andrógenos. Essa condição representa um desafio terapêutico significativo, especialmente em estágios avançados. A medicina nuclear tem emergido como uma abordagem crucial para o manejo do CPRC, contribuindo tanto no diagnóstico quanto no tratamento.

  1. Diagnóstico Avançado com Radiofármacos:

A medicina nuclear utiliza radiofármacos para melhorar o estadiamento e o monitoramento do CPRC, permitindo uma caracterização mais precisa da doença.

a) PET/CT com PSMA

O Prostate-Specific Membrane Antigen (PSMA):

O PSMA é uma proteína altamente expressa nas células do câncer de próstata, especialmente em casos resistentes à castração. Radiofármacos como o 68Ga-PSMA ou 18F-PSMA são usados em exames de tomografia por emissão de pósitrons (PET/CT) para detectar metástases com alta precisão.

Benefícios:

  • Identificação de lesões ósseas e de tecidos moles, mesmo em estágios iniciais de disseminação;
  • Mapeamento detalhado da extensão tumoral, ajudando na estratégia terapêutica.  

b) Monitoramento da Resposta Terapêutica

Os exames de imagem com radiofármacos também permitem avaliar a eficiência das terapias, ajudando a ajustar o tratamento de acordo com a progressão ou regressão do tumor.

 

  1. Terapias Dirigidas com Radionuclídeos:

A medicina nuclear também oferece terapias personalizadas e direcionadas, conhecidas como teranósticas, que combinam diagnóstico e tratamento com base em alvos moleculares.

Terapia com Lutécio-177 PSMA (177Lu-PSMA)

Mecanismo de Ação: O 177Lu-PSMA é um radiofármaco que emite radiação beta, capaz de destruir células tumorais que expressam PSMA. Ele também permite monitoramento através de imagem.

Benefícios:

  • Destruição seletiva das células cancerígenas, com redução de danos aos tecidos saudáveis;
  • Controle eficaz da progressão da doença;
  • Melhora significativa na qualidade de vida e extensão da sobrevida em pacientes com opções limitadas de tratamento.

Terapia com Rádio-223 (223Ra)

Mecanismo de Ação: O rádio-223 é um radiofármaco que emite partículas alfa, direcionado para metástases ósseas. As partículas alfa têm curto alcance e alta energia, destruindo células tumorais no osso.

Benefícios:

  • Redução da dor óssea e prevenção de fraturas patológicas;
  • Melhora na sobrevida global, além de um impacto positivo na qualidade de vida.

 

  1. Vantagens das Abordagens Teranósticas:

As abordagens teranósticas combinam o uso de radiofármacos para diagnóstico e terapia em um único protocolo, o que oferece vantagens importantes:

  • Personalização do Tratamento: O mesmo alvo molecular identificado no diagnóstico é utilizado para o tratamento.
  • Precisão: Redução dos efeitos colaterais devido à seletividade do tratamento.
  • Eficiência: Resultados mais rápidos e precisos tanto na destruição tumoral quanto no monitoramento.
  1. Limitações e Desafios

Embora a medicina nuclear tenha revolucionado o tratamento do CPRC, alguns desafios permanecem:

  • Acessibilidade: Infraestrutura e disponibilidade de radiofármacos como o 177Lu-PSMA e o 223Ra ainda são limitadas em algumas regiões.
  • Custos Elevados: Os tratamentos podem ser caros, restringindo seu acesso.
  • Efeitos Colaterais: Apesar de seletivos, os radionuclídeos podem causar efeitos colaterais, como fadiga, xerostomia (boca seca) e mielotoxicidade.

 

  1. Perspectivas Futuras

A evolução da medicina nuclear traz esperanças para o tratamento do CPRC:

  • Novos Radiofármacos: Pesquisas estão em andamento para desenvolver ligantes ainda mais eficazes e menos tóxicos.
  • Combinações Terapêuticas: O uso de radiofármacos em combinação com imunoterapia e outras abordagens está sendo explorado.
  • Melhor Acessibilidade: Com avanços na produção de radiofármacos, espera-se que essas terapias se tornem mais acessíveis.

A Medicina Nuclear desempenha um papel essencial no manejo do câncer de próstata resistente à castração, oferecendo soluções inovadoras para diagnóstico e tratamento. Com avanços tecnológicos e maior disponibilidade, essas abordagens prometem transformar o prognóstico de pacientes com CPRC, proporcionando maior sobrevida e qualidade de vida.

 

Texto elaborado por Bruna Lovato – Física Médica NUCLEORAD

 

Referências:

[1] O cenário mundial de radiofármacos emissores de pósitrons para diagnóstico e estadiamento de câncer de próstata em medicina nuclear. Brazilian Journal of Radiation Sciences, Rio de Janeiro, Brazil, v. 8, n. 1, 2020. DOI: 10.15392/bjrs.v8i1.1115. Disponível em: https://www.bjrs.org.br/revista/index.php/REVISTA/article/view/1115. Acesso em: 26 dec. 2024.

[2] Helmich, L. P. H., M. A. M. de Arruda, and Marcelo Tatit Sapienza. "PSMA-directed radioligand therapy (PSMA-RLT) with Lutetium-177 (177Lu-PSMA) as a treatment to metastatic resistant prostate cancer: a systematic review." Revista De Medicina 100.4 (2021): 391-402.