A radioproteção é uma área da Física Médica que busca minimizar os riscos associados à exposição à radiação ionizante em ambientes de saúde. Tanto os profissionais quanto os pacientes precisam ser protegidos para que os benefícios dos exames e tratamentos superem os potenciais riscos. Para isso, existem normas e regulamentações específicas, além do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e medidas de segurança nos hospitais e clínicas [1].
A exposição à radiação ionizante é rigorosamente regulamentada por normas nacionais e internacionais, que estabelecem diretrizes para garantir a segurança de todos os envolvidos. No Brasil, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) são responsáveis por definir critérios para a proteção radiológica em serviços de saúde. Algumas das principais diretrizes incluem o Princípio ALARA (As Low As Reasonably Achievable), que determina que a dose de radiação deve ser mantida no nível mais baixo possível, sem comprometer a qualidade dos exames e tratamentos. Além disso, os limites de dose ocupacional anual para trabalhadores expostos à radiação são de 20 mSv, enquanto para o público em geral o limite é de 1 mSv por ano [2]. O monitoramento da exposição é outra exigência importante, sendo obrigatório o uso de dosímetros individuais para acompanhar a exposição ocupacional dos profissionais e garantir que os limites de segurança sejam respeitados. Por fim, também há a blindagem e o controle de acesso, que exige que paredes, portas e janelas de salas onde há radiação sejam construídas com materiais como chumbo ou concreto, minimizando a dispersão da radiação e protegendo áreas adjacentes [3].
Além das regulamentações, a utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) é indispensável para reduzir a exposição à radiação. Entre os principais EPIs utilizados estão os aventais de chumbo, que reduzem significativamente a exposição do tronco à radiação dispersa; os protetores de tireóide, que protegem a glândula tireoide, altamente sensível à radiação; os óculos plumbíferos, que minimizam a exposição dos olhos à radiação dispersa, reduzindo o risco de catarata induzida por exposição prolongada; e as luvas de chumbo, utilizadas principalmente em procedimentos intervencionistas para minimizar a exposição das mãos [4].
Além dos EPIs, outras medidas de segurança são fundamentais para a proteção radiológica. Estratégias simples e eficazes incluem manter uma distância segura da fonte de radiação e reduzir o tempo de exposição, diminuindo assim a dose recebida. O uso de colimadores também é essencial, pois esses dispositivos reduzem a área irradiada, evitando a exposição desnecessária de pacientes e profissionais [2]. Outra ação fundamental é a capacitação contínua dos profissionais, garantindo que treinamentos periódicos sejam realizados para mantê-los atualizados sobre boas práticas de radioproteção [5].
A evolução tecnológica também desempenha melhorias na radioproteção, permitindo o desenvolvimento de equipamentos mais seguros e eficientes. Avanços como a tomografia computadorizada de baixa dose, o uso de softwares de otimização de imagem e sistemas de monitoramento em tempo real ajudam a reduzir a exposição desnecessária à radiação sem comprometer a qualidade dos exames. Também, a implementação de protocolos personalizados para cada paciente, levando em consideração fatores como idade, peso e histórico clínico, contribui para a aplicação de doses adequadas, reforçando o equilíbrio entre benefício e segurança no uso da radiação ionizante na medicina [6].
Portanto, a radioproteção na medicina é um compromisso contínuo para assegurar que a utilização da radiação ionizante seja feita de maneira segura e eficiente. O cumprimento das normas regulamentadoras, o uso adequado de EPIs e a adoção de medidas preventivas são essenciais para proteger tanto os profissionais da saúde quanto os pacientes. Dessa forma, é possível continuar aproveitando os benefícios da radiação no diagnóstico e tratamento de doenças, sempre priorizando a segurança e o bem-estar de todos.
Texto elaborado pelo estagiário Rafael Borges de Carvalho – graduando em Física Médica pela UFCSPA – NUCLEORAD.
Referências:
[1] CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear. Norma CNEN NN 3.01 - Diretrizes Básicas de Radioproteção. Brasília: CNEN, 2014.
[2] CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear. Norma CNEN NN 6.05 - Requisitos de Segurança e Proteção Radiológica para Serviços de Radioterapia. Brasília: CNEN, 2014.
[3] ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 611, de 9 de março de 2022. Brasília: ANVISA, 2022.
[4] ANVISA. Manual de Proteção Radiológica em Radiodiagnóstico Médico e Odontológico. Brasília: ANVISA, 2020.
[5] CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear. Diretrizes de Treinamento em Proteção Radiológica para Profissionais de Saúde. Brasília: CNEN, 2021.
[6] Dalmazo J, Elias Júnior J, Brocchi MAC, Costa PR, Azevedo-Marques PM de. Otimização da dose em exames de rotina em tomografia computadorizada: estudo de viabilidade em um Hospital Universitário. Radiol Bras [Internet]. 2010 Jul;43(4):241–8.