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Radiologia Médica Odontológica e Veterinária

Testes semanais de controle de qualidade em Ressonância Magnética: da qualidade do diagnóstico até as bases físicas

Por tiago em 02/10/2024 às 16:26

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A ressonância magnética(RM) é um dos métodos mais avançados para obtenção de imagens médicas, com suas primeiras aplicações clínicas no ano de 1977. Sua operação depende de uma combinação de campos magnéticos e pulsos de radiofrequência para gerar imagens detalhadas dos tecidos moles do corpo humano, que têm uma boa proporção de moléculas de H2O, essenciais para o processo de imagem. A precisão e a confiabilidade do exame dependem de uma série de fatores técnicos e operacionais, e, para garantir que os resultados sejam sempre consistentes, é fundamental que o equipamento passe por testes regulares realizados pelos setores da Física Médica. As instruções normativas emitidas pela ANVISA no Brasil, como a Instrução Normativa (IN) 97 de 27 de maio de 2021, especificam uma série de exigências para o controle de qualidade em equipamentos de diagnóstico por imagem, incluindo a ressonância magnética [1]. Esses regulamentos são projetados para assegurar que o equipamento mantenha um desempenho adequado e que a segurança dos pacientes seja sempre uma prioridade. 

Os testes semanais mencionados na IN 97 são importantes ara assegurar que o equipamento de ressonância magnética esteja operando dentro dos padrões necessários para garantir a qualidade das imagens e a segurança dos pacientes. Esses testes envolvem a coleta de diversos parâmetros utilizando o software integrado do equipamento, com o auxílio de um phantom. O phantom é um dispositivo que simula as propriedades dos tecidos humanos e permite que técnicos e físicos médicos avaliem como o equipamento responde ao realizar exames em condições controladas. Um dos parâmetros mais importantes é a verificação da uniformidade do campo magnético, que deve ser medida para garantir que o campo magnético esteja distribuído de forma homogênea ao longo do volume de imagem. Qualquer irregularidade pode resultar em distorções ou falhas nas imagens, comprometendo o diagnóstico. 

Além da uniformidade do campo magnético, a relação sinal-ruído também é verificada semanalmente. Esse teste é essencial para garantir que as imagens tenham a nitidez necessária para diagnósticos precisos, sem interferências que possam comprometer a qualidade das informações captadas. O phantom, simulando a composição dos tecidos humanos, permite avaliar como o equipamento lida com as variações de densidade e propriedades dos tecidos. O software dedicado analisa esses dados em tempo real, fornecendo uma visão detalhada do desempenho do sistema. A coleta contínua desses parâmetros garante que ajustes preventivos possam ser feitos antes que qualquer falha afete a operação do equipamento, o que demonstra a importância da manutenção preventiva em sistemas de diagnóstico por imagem. 

A presença do físico médico é indispensável para a realização desses testes semanais, como também exigido pela IN 97. O físico é responsável por interpretar os resultados dos testes e fazer os ajustes necessários para garantir que o equipamento opere dentro das normas estabelecidas. Ele também assegura que todos os sistemas de segurança, incluindo os alarmes e mecanismos de emergência, estejam em pleno funcionamento, especialmente em ambientes onde o campo magnético forte possa representar riscos. A atuação desse profissional é vital para garantir que os resultados obtidos sejam precisos e que os padrões exigidos pela regulamentação sejam cumpridos. A comparação dos dados coletados pelo phantom com padrões de referência permite ajustes que garantem a eficiência do equipamento e, consequentemente, a eficácia dos exames realizados. 

A qualidade da imagem gerada por uma ressonância magnética é de suma importância para a obtenção de um diagnóstico preciso. O ruído pode interferir significativamente na capacidade de visualizar pequenas estruturas ou detalhes sutis que podem ser decisivos para o médico. Um controle rigoroso sobre a qualidade da imagem é, portanto, parte integral das boas práticas em radiologia e ressonância [2]. Isso também inclui a calibração constante dos sistemas e a verificação de que os gradientes de campo magnético estão adequados para cada tipo de exame realizado. A RM, por operar com campos magnéticos poderosos, exige um ambiente seguro, tanto para os pacientes quanto para os operadores. Por isso, os testes semanais também envolvem a verificação dos sistemas de emergência e segurança, como alarmes e controle de acesso à sala de exame, para garantir que todos os procedimentos sejam realizados com a máxima segurança. 

Entender a física por trás da ressonância magnética é outro ponto crucial para compreender a necessidade desses cuidados contínuos com o equipamento. A RM funciona pela excitação dos núcleos de hidrogênio presentes no corpo humano por meio de um campo magnético e radiofrequência. Quando esse campo é interrompido, os núcleos emitem sinais que são captados e transformados em imagens. Qualquer variação nos parâmetros físicos que regem esse processo – como a intensidade do campo magnético, a frequência de ressonância ou o tempo de relaxamento dos tecidos – pode alterar a qualidade das imagens e prejudicar a precisão dos diagnósticos [3]. Além disso, como o corpo humano é composto por diferentes tipos de tecidos, cada um com características únicas de relaxamento, a RM consegue diferenciar com clareza entre eles, algo que a torna uma ferramenta indispensável para a medicina moderna. 

Seguindo as instruções normativas e mantendo a qualidade das imagens, não apenas asseguramos diagnósticos mais precisos, mas também proporcionamos um ambiente seguro para os pacientes. Cada passo, desde a calibração semanal até o monitoramento de artefatos, faz parte de um sistema robusto que garante a eficácia da ressonância magnética como método de diagnóstico. Dessa forma, o cumprimento dessas normas não é apenas uma exigência regulatória, mas uma prática indispensável para o sucesso no atendimento e para a manutenção da confiança na tecnologia utilizada. 

 

- Texto elaborado pelo estagiário Eduardo Berna – graduando em física médica pela UFCSPA – NUCLEORAD 

 

Referências: 

[1] ANVISA, IN Nº 97, de 27 de maio de 2021. 

[2] Kuhls-Gilcrist, A., et al. "Quality Control in MRI: Essential Practices and Guidelines." Radiology Today, 2020. 

[3] Hornak, J. P. "The Basics of MRI Physics." Rochester Institute of Technology, 2019.