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Radiologia Médica Odontológica e Veterinária

A relação entre o físico médico e o cálculo de blindagem

Por Adriano Goulart em 06/06/2024 às 11:51

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A realização do cálculo de blindagem é um dos conhecimentos atribuídos ao profissional de física médica em serviços clínicos - hospitalares.  A importância desse está associada aos riscos que o excesso de exposição à radiação ionizante pode representar à saúde humana. Ao realizar o cálculo de blindagem, os físicos, baseado nas especificações oferecidas pelo serviço médico, determinam os materiais mais adequados a realidade apresentada pelo projeto clínico em relação a diferentes tipos de radiação ionizante, que minimizem as exposições de indivíduos do público e ocupacionais.

Os limites de radiação anuais considerados para o cálculo de blindagem variam dependendo do contexto e das regulamentações específicas de cada país ou organização. Geralmente, esses limites são estabelecidos com base em padrões de segurança radiológica e saúde pública.

Por exemplo, em muitos países, como os Estados Unidos e a União Europeia, os limites de exposição à radiação são definidos por agências reguladoras, como a Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP) e a Comissão Internacional de Unidades de Radiação e Medidas (ICRU). Essas agências estabelecem limites anuais de dose efetiva para diferentes categorias de exposição, como trabalhadores ocupacionalmente expostos e membros do público em geral.

No Brasil, no âmbito do radiodiagnóstico, a ANVISA a partir do documento publicado em 2022, RDC 611, e as instruções normativas posteriores, estabelece um valor de 0,5 mSv/ano para áreas livres e 5,0 mSv/ano para áreas controladas.

Para realizar o cálculo de blindagem em radiodiagnóstico, os seguintes passos são seguidos:

  1. Identificação das áreas que necessitam da realização do cálculo de blindagem: A partir de planta baixa oferecida pelo estabelecimento, o físico determina os locais que necessitam de avaliação/realização do cálculo de blindagem. 

    2.Avaliação do tipo de equipamento a ser instalado em cada ambiente: Determinar as fontes de radiação utilizadas em cada ambiente identificado, como equipamentos de raios-X convencionais, tomografia computadorizada (TC), fluoroscopia, entre outros.

  1. Avaliação dos Requisitos de Proteção: Classificar cada área do entorno do ambiente a ser avaliado analisando os requisitos de proteção radiológica estabelecidos por regulamentações locais e padrões internacionais. Isso inclui limites de dose para pacientes, profissionais de saúde e membros do público. Identificando áreas como salas de exames, áreas de controle e corredores adjacentes, entre outros.
  2. Medição ou Estimativa da Taxa de Dose: Realizar medições diretas da taxa de dose de radiação ou utilizar dados fornecidos pelos fabricantes dos equipamentos e protocolos internacionais para estimar os níveis de radiação nas áreas a serem protegidas.
  3. Seleção dos Materiais de Blindagem: A partir do cálculo executado, determinar os materiais de blindagem adequados com base nas energias e tipos de radiação utilizados nos exames radiológicos. Para raios-X, materiais como chumbo, concreto e barita são comumente utilizados.
  4. Verificação e Teste: Realizar verificações e testes para garantir que a blindagem atenda aos requisitos de proteção estabelecidos. Isso pode incluir medições de taxa de dose após a instalação da blindagem e simulações computacionais adicionais, se necessário.
  5. Monitoramento: Implementar um programa para monitoramento das instalações de radiodiagnóstico para garantir a eficácia contínua da blindagem ao longo do tempo.

 

Esses passos garantem que as instalações de radiodiagnóstico estejam em conformidade com as regulamentações de segurança radiológica. Entretanto, é válido salientar que, a cada alteração estrutural do ambiente ou troca de equipamento, é necessário a execução de um novo cálculo de blindagem por parte da equipe de física médica para garantir a eficácia ou possíveis alterações da blindagem já existente.

Após a execução da obra civil e instalação do equipamento deverá ser implementado um programa de garantia da qualidade, de proteção radiológica e de educação permanente.

 

Texto elaborado pela Física Carolline Gomes de Oliveira – especialista em radiodiagnóstico - NUCLEORAD

 

Referências:

  1. National Council on Radiation Protection and Measurements (2004) Structural Shielding Design for Medical X-ray Imaging Facilities. Bethesda: NCRP; NCRP Report 147.
  1. National Council on Radiation Protection and Measurements (1993) Limitations of Exposure to Ionizing Radiations. Bethesda: NCRP; NCRP Report 116.
  2. National Council on Radiation Protection and Measurements (1976) Structural Shielding Design and Evaluation for Medical Use of X Rays and Gamma Rays of Energies up to 10 MeV. Bethesda: NCRP; NCRP Report 49.
  3. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Resolução n° 611