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Radiologia Médica Odontológica e Veterinária

Cirurgias com Marcadores Não Invasivos e Não Radioativos: O Futuro da Visualização Médica

Por Bruna em 09/04/2025 às 16:06

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Na busca por métodos cada vez mais seguros e eficazes, a medicina tem avançado significativamente no desenvolvimento de técnicas de imagem que dispensam tanto o uso de radiação ionizante quanto procedimentos invasivos. Um dos campos que mais se beneficia dessas inovações é a cardiologia, onde marcadores não invasivos e não radioativos vêm sendo estudados e aplicados para a visualização funcional e anatômica do coração com alta precisão e segurança [1].

Tradicionalmente, a obtenção de imagens cardíacas funcionais envolvia o uso de radiofármacos em exames como PET e SPECT, que embora forneçam informações valiosas, exigem exposição à radiação e preparo específico do paciente. Além disso, muitas dessas abordagens demandam inserção de cateteres ou injeções, o que pode representar riscos, desconforto e limitações para pacientes com contraindicações. Diante desse cenário, tecnologias emergentes vêm propondo o uso de propriedades fisiológicas naturais do próprio corpo como "marcadores" — por exemplo, a movimentação e concentração de íons, como o sódio (Na⁺), ao longo de processos celulares normais [2].

A bomba de sódio-potássio (Na⁺/K⁺-ATPase) é um componente essencial das células miocárdicas, responsável por manter o equilíbrio eletroquímico e a excitabilidade do tecido cardíaco. Durante a atividade celular normal, a concentração de sódio intracelular é rigidamente controlada, e qualquer alteração, como ocorre em casos de isquemia ou inflamação, pode indicar sofrimento ou dano tecidual. Técnicas de imagem que detectam a distribuição de íons sódio são capazes de capturar essas alterações fisiológicas de forma não invasiva. Um exemplo disso é a ressonância magnética de sódio (Na-MRI), que permite mapear a concentração de sódio no tecido cardíaco em tempo real [3].

Na-MRI funciona de maneira semelhante à ressonância magnética convencional, mas em vez de detectar os sinais emitidos pelos prótons (átomos de hidrogênio) presentes na água, o sistema é ajustado para captar os núcleos de sódio-23. Como o sódio está presente em concentrações muito menores do que o hidrogênio, essa técnica exige equipamentos com alto campo magnético e bobinas específicas. Ainda assim, os avanços recentes têm tornado essa abordagem cada vez mais viável na prática clínica e na pesquisa. Com ela, é possível visualizar regiões do coração com disfunção celular, mesmo antes de ocorrerem alterações anatômicas visíveis — uma vantagem significativa em relação a métodos tradicionais [3].

Além da Na-MRI, outras técnicas não invasivas que utilizam contrastes alternativos, como fluoróforos ligados a processos metabólicos ou marcadores magnéticos sensíveis a variações de pH e fluxo sanguíneo, também estão sendo desenvolvidas. Essas abordagens visam destacar áreas específicas do tecido sem a necessidade de radiação ionizante, tornando os exames mais seguros e repetíveis ao longo do tempo. Em muitos casos, essas imagens podem ser combinadas com inteligência artificial e algoritmos de reconstrução para oferecer um detalhamento ainda maior das estruturas anatômicas e funcionais [4].

Essas técnicas também possibilitam a avaliação de condições cardíacas complexas com mais precisão, como a detecção precoce de miocardiopatias, a diferenciação entre tecido viável e tecido necrótico, e o monitoramento da eficácia de terapias farmacológicas ou intervencionistas. Além disso, são especialmente vantajosas em grupos vulneráveis, como gestantes, crianças e pacientes com doenças crônicas, que necessitam de monitoramento frequente sem os riscos associados à exposição acumulada à radiação [1].

Embora ainda estejam em processo de validação para uso rotineiro, as imagens obtidas com marcadores não invasivos e não radioativos representam um avanço importante na medicina moderna. Ao transformar processos fisiológicos em fontes de contraste naturais, essas tecnologias aliam precisão, segurança e conforto, abrindo caminho para um novo paradigma na cardiologia e em outras áreas da saúde. O futuro da imagem médica pode ser cada vez mais integrado à biologia molecular e menos dependente de métodos invasivos — e esses marcadores são um passo crucial nessa direção.

 

Texto elaborado por Eduardo Berna – Estágiario NUCLEORAD