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Radiografia Infantil com Segurança: Tudo Sobre a Proteção de Acompanhantes nos Exames

Por Bruna em 13/05/2025 às 14:48

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Os exames de radiografia são ferramentas fundamentais na prática clínica, especialmente em pediatria, onde auxiliam no diagnóstico de uma ampla variedade de condições. Nesses casos, é comum que a criança seja acompanhada por um dos pais ou cuidadores, tanto para fornecer conforto emocional quanto para ajudar na contenção física durante a aquisição da imagem. No entanto, a presença do acompanhante dentro da sala de exame deve ser cuidadosamente avaliada do ponto de vista da proteção radiológica, uma vez que se trata de uma pessoa saudável, sem qualquer benefício direto da exposição à radiação ionizante.

De acordo com a RDC nº 611/2022 da ANVISA, a entrada de acompanhantes em exames radiológicos só é permitida quando estritamente necessária, como em situações envolvendo pacientes pediátricos, idosos ou com deficiências, desde que seja imprescindível para a realização do procedimento. Nessas ocasiões, é obrigatório fornecer Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados e garantir que o acompanhante seja previamente orientado sobre os riscos e condutas durante o exame. A exposição à radiação ionizante, mesmo em pequenas doses, deve sempre ser evitada ou minimizada, em conformidade com os princípios de justificação, otimização e limitação da dose estabelecidos pelas diretrizes internacionais de proteção radiológica.

Entre os EPIs mais utilizados destaca-se o avental plumbífero, geralmente confeccionado com espessura de 0,5 mm de chumbo equivalente, capaz de atenuar entre 90% e 99% da radiação espalhada, dependendo da energia do feixe. Esses aventais pesam em média de 4 a 7 kg, podendo gerar certo desconforto quando usados por longos períodos, especialmente em pessoas de porte físico mais leve ou em situações de ansiedade. Além do avental, é recomendado o uso de protetores de tireoide, óculos plumbíferos e, em alguns casos, luvas, principalmente quando o acompanhante precisa posicionar a criança. Sempre que possível, deve-se optar por posicionar o acompanhante atrás de uma barreira plumbífera ou oferecer a observação do exame por meio de uma janela com proteção, evitando a necessidade de sua entrada na sala.

Caso a presença na sala seja indispensável, o acompanhante deve permanecer fora da direção do feixe primário, de preferência atrás da cabeça da criança ou do lado oposto ao tubo de raios X, sempre utilizando corretamente os EPIs fornecidos. É essencial que ele permaneça imóvel durante a exposição, evite tocar no equipamento e siga rigorosamente as instruções fornecidas pela equipe de saúde. A comunicação clara e humanizada é um aspecto essencial nesse contexto. Segundo uma revisão sistemática realizada por Lopes (2019), muitos pais e cuidadores demonstram desconhecimento sobre os riscos da radiação e os motivos da adoção das medidas protetivas, o que pode gerar insegurança, resistência ao uso dos EPIs ou comportamentos inadequados durante o exame.

Esse cenário evidencia a necessidade de um esforço maior por parte das instituições e dos profissionais de saúde em promover a educação em radioproteção, especialmente para acompanhantes de crianças. A simples entrega de um colete de chumbo não garante proteção adequada se não vier acompanhada de uma explicação compreensível, empática e fundamentada nos princípios da segurança. Além disso, é fundamental que se registre adequadamente a presença do acompanhante na sala, bem como a utilização dos EPIs, seguindo as exigências legais e assegurando a rastreabilidade das ações adotadas.

Situações envolvendo acompanhantes gestantes merecem ainda mais atenção. A presença de gestantes na sala deve ser evitada sempre que possível. Quando não houver outra alternativa, a exposição precisa ser avaliada com cautela e autorizada formalmente, preferencialmente com a assinatura de um termo de ciência. A RDC 611/2022 determina que a equipe deve questionar a possibilidade de gestação em todas as mulheres em idade fértil antes da realização de exames radiológicos, tanto para pacientes quanto para acompanhantes.

A proteção radiológica dos acompanhantes de crianças em exames de radiografia não se resume ao uso de barreiras físicas. Ela envolve planejamento, empatia, responsabilidade legal e compromisso com a segurança de todos os envolvidos. O papel dos profissionais da Física Médica, da enfermagem e dos técnicos em radiologia é essencial para garantir que essas medidas sejam implementadas de forma adequada e consistente. Quando esses cuidados são colocados em prática, é possível assegurar que os exames sejam realizados com sucesso, protegendo tanto o paciente quanto quem está ali para cuidar dele.

Texto elaborado pelo estagiário Eduardo Berna – graduando em Física Médica pela UFCSPA – NUCLEORAD

 

Referências:

[1] BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 611, de 9 de fevereiro de 2022. Dispõe sobre os Requisitos de Boas Práticas em Radiodiagnóstico Médico. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 10 fev. 2022.

 [2] Lopes AJ. O conhecimento que os pais ou cuidadores de crianças submetidas a exames radiológicos têm sobre o risco do exame: revisão sistemática [dissertation]. Lisboa: Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa/Instituto Politécnico de Lisboa; Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve; 2019. Disponivel em: [https://repositorio.ipl.pt/bitstreams/b04aa055-4e59-4512-b484-04060438de5d/download]