A fluoroscopia tem se tornado cada vez mais presente na rotina de diversos setores hospitalares, como a hemodinâmica, a radiologia intervencionista e a ortopedia. Sua principal característica é permitir imagens em tempo real, o que ajuda a orientar procedimentos com maior precisão e agilidade. Mas junto dessa vantagem, vem também uma responsabilidade: o uso da radiação ionizante, por mais controlado que seja, exige atenção com a proteção dos profissionais que estão frequentemente próximos ao paciente e ao equipamento.
Durante um exame fluoroscópico, é comum que médicos, técnicos e enfermeiros permaneçam próximos à mesa, ao arco em C e ao paciente. Nessa posição, eles ficam sujeitos à radiação espalhada, que não é a radiação direta do feixe, mas aquela que se dispersa pelo ambiente após atingir o corpo do paciente. Por isso, o uso de Vestimentas de Proteção Individual (VPIs) é tão importante. Aventais de chumbo, protetores de tireoide e óculos plumbíferos não são acessórios burocráticos — eles fazem uma diferença real na quantidade de radiação que atinge partes sensíveis do corpo. Usar o avental corretamente ajustado, com proteção adequada e em bom estado de conservação, é uma forma direta de reduzir a dose absorvida pelos órgãos internos. O protetor de tireoide, muitas vezes esquecido, é essencial porque essa glândula é uma das mais sensíveis à radiação. Já os óculos ajudam a proteger o cristalino, que pode sofrer com exposições frequentes e prolongadas, mesmo que em baixas doses.
Além dos VPIs, há outro recurso indispensável que todo profissional exposto deve usar: o dosímetro. Esse dispositivo tem uma função simples, mas fundamental — registrar a quantidade de radiação que a pessoa recebe ao longo do tempo. O uso do dosímetro é importante por várias razões. Primeiro, porque permite acompanhar a exposição individual de forma segura, controlada e personalizada. Segundo, porque fornece dados que ajudam a equipe de radioproteção a avaliar se os níveis estão dentro do aceitável e, se necessário, ajustar procedimentos, reorganizar escalas ou orientar melhor os profissionais. Ter esse acompanhamento é uma forma de trazer segurança real para o ambiente de trabalho.
A verdade é que, com o tempo, é fácil que a rotina torne algumas práticas automáticas. Mas quando falamos em radiação, o acúmulo de pequenas exposições, mesmo dentro dos limites aceitáveis, precisa ser levado a sério. Por isso, manter o uso regular dos VPIs e do dosímetro não é exagero. É um hábito de cuidado com a própria saúde e com o ambiente profissional. Trabalhar com fluoroscopia pode ser absolutamente seguro, desde que os recursos disponíveis sejam usados com consciência. A radioproteção, nesse contexto, é uma construção coletiva. Não depende apenas do equipamento ou do físico médico, mas de uma cultura que valorize a prevenção, o conhecimento técnico e o respeito ao corpo de quem está todos os dias na linha de frente dos procedimentos com imagem.
Texto elabora por Letícia Fröhlich – Física Médica NUCLEORAD
Referências:
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