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Níveis de referência de diagnóstico (DRL) em radiologia pediátrica

Os Níveis de Referência Diagnóstica (do inglês Diagnostic Reference Levels - DRLs) são uma ferramenta essencial para garantir que as doses de radiação utilizadas em exames médicos sejam seguras e eficazes. Quando se trata de radiologia pediátrica, a atenção aos DRLs é ainda mais crítica, pois as crianças são mais sensíveis à radiação do que os adultos. Vamos explorar como os profissionais de saúde podem aplicar os DRLs em radiologia pediátrica, levando em consideração as particularidades dos pacientes mais jovens.   O que são DRLs?   DRLs são valores estabelecidos como referências para as doses de radiação usadas em exames médicos. Eles não são limites rígidos, mas guias que ajudam os profissionais a ajustar suas práticas para garantir que as doses de radiação sejam as mais baixas possíveis, sem comprometer a qualidade da imagem necessária para o diagnóstico.   Considerando o Tamanho das Crianças   Diferente dos adultos, o tamanho das crianças varia significativamente, não apenas com a idade, mas também dentro da mesma faixa etária. Esta variação requer uma abordagem cuidadosa na definição de DRLs para garantir que as doses de radiação sejam apropriadas para o tamanho específico de cada criança.   Como Agrupar Pacientes   Para facilitar a aplicação dos DRLs, os pacientes pediátricos são geralmente agrupados por peso e, em alguns casos, por idade. Esta abordagem ajuda a definir doses de referência mais precisas. Por exemplo, recém-nascidos são tratados de forma diferente de crianças de 1 ano, e assim por diante. Isso garante que cada grupo de pacientes receba uma dose adequada à sua condição física.   Começando do Zero: O Que Fazer sem Referência Local ou Nacional   Para instalações médicas que não têm referência bem estabelecida para DRLs, especialmente em países com menos recursos, é importante começar medindo as doses de radiação em exames comuns realizados em adultos. A partir daí, esses valores podem ser ajustados e comparados com referências publicadas para práticas similares. Este processo ajuda a identificar áreas onde a dose de radiação pode ser otimizada sem comprometer a qualidade do diagnóstico.   Evitando Armadilhas ao Comparar Dados   Comparar os valores de dose de radiação de sua instalação com DRLs publicados pode ser complicado. Aqui estão algumas armadilhas comuns a serem evitadas:   Diferenças nas Práticas de Imagem: As práticas de radiologia podem variar de um país para outro, o que pode tornar os DRLs de outros locais irrelevantes para sua situação específica. Métodos Diferentes de Medição: Os métodos usados para medir e relatar as doses de radiação podem variar, o que dificulta comparações diretas. Tecnologia Atualizada: Avanços na tecnologia de imagem, como novas técnicas de processamento, podem influenciar os níveis de dose e precisam ser levados em conta.   Importância da Avaliação Contínua   Mesmo que os níveis de dose de radiação estejam abaixo dos DRLs publicados, é crucial revisar continuamente as técnicas de imagem para identificar oportunidades de reduzir ainda mais a dose, sempre garantindo que a qualidade da imagem e o valor diagnóstico não sejam comprometidos.   Conclusão   A aplicação de DRLs em radiologia pediátrica é uma prática essencial para proteger os pacientes mais jovens dos efeitos da radiação, ao mesmo tempo em que se garanta a qualidade necessária para diagnósticos precisos. Entender as particularidades dos pacientes pediátricos e adotar uma abordagem cuidadosa e informada pode fazer uma grande diferença na prática clínica diária.   Texto elaborado por Ester Azeredo - estagiária de física médica da NUCLEORAD.   Referências Diagnostic Reference Levels (DRLs) in paediatric radiology. Disponível em: <https://www.iaea.org/resources/rpop/health-professionals/radiology/diagnostic-reference-levels/diagnostic-reference-levels-in-paediatric-radiology>. Acesso em: 11 jun. 2024.

Por tiago em 04/09/2024 às 13:32
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
A importância do uso de dosímetros individuais de leitura indireta em Centro Cirúrgico e procedimentos Intervencionistas

Os dosímetros de leitura indireta medem a radiação absorvida usando materiais que reagem a essa radiação e precisam de processamento posterior para ler os resultados, esses dosímetros usam cristais que luminescem ou, também sensores que acumulam energia, que posteriormente são lidos com equipamentos especializados. Essa abordagem permite uma medição precisa da exposição à radiação a longo prazo, frequentemente utilizada em ambientes de trabalho que usam equipamentos que emitem radiação, como os centros cirúrgicos. Dessa forma, dosímetros de leitura indireta podem ser classificados em Termoluminescentes (TLD) e de Luminescência Opticamente Estimulada (OSL). O funcionamento dos TLDs baseia-se na termoluminescência, um processo físico no qual certos materiais emitem luz quando aquecidos após terem sido expostos a radiação, sua leitura é realizada através de seu aquecimento a uma temperatura específica, que faz com que os elétrons prisioneiros se movam e recombinem, liberando a energia na forma de luz. Em contrapartida, os dosímetros OSLs funcionam com base no fenômeno da luminescência estimulada opticamente, quando expostos à radiação ionizante durante um período de tempo, a mesma interage com o material do dosímetro, que armazena energia na estrutura cristalina do material. Para medir a dose de radiação, o OSL é colocado em um leitor especializado que utiliza luz visível ou ultravioleta para estimular o material, esse estímulo faz com que os elétrons "prisioneiros" liberem a energia armazenada na forma de luz visível. Independentemente do tipo de dosímetro usado, ambos são de extrema importância para a monitoração da dose de radiação recebida pelo profissional que atua em centro cirúrgico e procedimentos intervencionistas. Os profissionais da saúde que trabalham em centros cirúrgico, especialmente aqueles envolvidos em procedimentos que utilizam radiação, como cirurgias assistidas por imagem e procedimentos intervencionistas estão expostos a radiações ionizantes. O dosímetro tem por objetivo, monitorar a dose de radiação recebida e assegurar que não ultrapasse os limites recomendados pela legislação e normas de segurança, sua utilização é uma exigência regulamentar para garantir que as práticas de radiologia estejam de acordo com as normas de segurança estabelecidas por órgãos reguladores, como a Resolução de Diretoria Colegiada - RDC 611/22 da Anvisa e a Norma NN 3.01 da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que tratam dos requisitos para o controle da exposição ocupacional a radiação nos serviços de saúde. Ambas as normas especificam que, em ambientes onde há exposição a radiações ionizantes (como em centros cirúrgicos onde se utilizam equipamentos de fluoroscopia e Setores de Hemodinâmica, onde são realizados procedimentos intervencionistas), é essencial o uso de dosímetros pessoais para monitorar a dose de radiação recebida pelos trabalhadores. Através do uso dos dosímetros, é possível monitorar e controlar a exposição à radiação em tempo real, dessa forma, permitindo que ajustes sejam feitos na prática clínica, como a utilização de barreiras protetoras ou a modificação das técnicas de imagem, para minimizar a exposição. Manter registros precisos de exposição ajuda a cumprir essas exigências e a demonstrar que as práticas de radioproteção estão sendo seguidas corretamente. Os dados coletados pelos dosímetros ajudam a identificar áreas onde os profissionais podem precisar de mais treinamento em técnicas de proteção ou em práticas adequadas de manejo de radiação. Ao analisar as leituras dos dosímetros, as instituições podem avaliar a eficácia das práticas atuais de proteção radiológica e fazer melhorias conforme necessário. Contribuindo para a otimização das técnicas de radiologia e para a redução de riscos a longo prazo. Texto Elaborado pela Bruna Vitola Lovato - Física NUCLEORAD Especialista em Radiodiagnóstico – UCS   Referências: Leticia L. Campos. Termoluminescencia da materiais e sua aplicação em dosimetria da radiação. Unuversidade Federal de São Carlos, São Paulo, Brazil, 2008. Luana F. Nascimento. dosimetria usando Lumescência Opticamante Estimulada:aplicações, propriedade físicas e caracteristicas de materiais dosimetricos. Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2017. COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR. Norma Nacional 3.01: Requisitos básicos de Proteção Radiológica e Segurança Radiológica de Fontes de Radiação. Rio de Janeiro: CNEN, 2024.  AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução Colegiada RDC nº 611: Estabelece requisitos para o controle de produtos e serviços de saúde. Brasília: ANVISA, 2022.  

Por tiago em 04/09/2024 às 13:31
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Como o exame de Mamografia impacta no diagnóstico precoce de câncer de mama no Brasil?

A mamografia é um exame fundamental no diagnóstico precoce de câncer de mama, especialmente no Brasil, onde essa doença é uma das principais causas de morte entre mulheres. Dessa forma, a detecção precoce é crucial, uma vez que quanto mais rápido a doença é identificada, maiores são as chances de um tratamento eficaz e, possivelmente, a cura. De acordo com o INCA  (Instituto Nacional de Câncer), em 2023, estimou-se que cerca de 66280 novos casos de câncer de mama seriam diagnosticados no Brasil, representando aproximadamente 29,7% do total de casos novos de câncer no país. Esses números reforçam a necessidade de um monitoramento eficaz e contínuo da saúde das mamas. A mamografia é capaz de detectar anomalias antes mesmo que um nódulo se forme, o que pode ser vital para o sucesso do tratamento. Estudos indicam que a mamografia pode reduzir a mortalidade por câncer de mama em até 30% entre mulheres que realizam o exame regularmente, especialmente aquelas na faixa etária de 50 a 69 anos. O INCA recomenda que a mamografia seja realizada com periodicidade anual ou bianual, a depender da recomendação médica, a partir dos 40 anos. É importante destacar que o acesso ao exame ainda é um desafio em algumas regiões do Brasil, principalmente naquelas mais afastadas dos grandes centros urbanos. Uma campanha de conscientização e a ampliação da oferta de mamografias são essenciais para garantir que todas as mulheres tenham o direito ao diagnóstico precoce. Algumas capitais desenvolveram formas de atingir um maior contingente da população, através de campanhas que viabilizam a chegada do equipamento de mamografia em regiões remotas e diversos interiores do Brasil, através de carretas e campanhas da marinha brasileira. Para garantir que essa modalidade de exame seja executada e apresente resultados com o melhor detalhamento possível, os profissionais de física médica, realizam periodicamente avaliações da constância e desempenhos dos equipamentos de mamografia. As avaliações realizadas consistem em verificar aspectos da qualidade da imagem, como resolução, característica do contraste na imagem, detalhamento de estruturas como calcificações, cistos, fibras, estruturas que são comuns durante a avaliação do exame. Testes em relação a dose de radiação ao qual as pacientes estão sendo expostas associadas a espessura da mama comprimida no equipamento; avalia-se, também, a qualidade e a forma de compressão utilizada pelo equipamento, além de vários outros critérios determinados pelo fabricante do equipamento e, especialmente, pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Esta, estabelecendo através da RDC 611, instrução normativa n° 92, os critérios mínimos para operação e melhor execução dos exames desta modalidade. Em suma, a mamografia é uma ferramenta essencial no combate ao câncer de mama no Brasil. Sua importância reside não apenas na detecção precoce da doença, mas também na redução da mortalidade e na promoção da saúde da mulher. O incentivo à realização do exame e a conscientização sobre sua relevância devem ser constantes, garantindo que mais mulheres possam ter acesso e se beneficiar desse exame vital.   Escrito por: Carolline Gomes de Oliveira Física Médica NUCLEORAD – Especialista em Radiodiagnóstico EBSERH/UFS   Referências: ANVISA: INSTRUÇÃO NORMATIVA - IN N° 92, DE 27 DE MAIO DE 2021 INCA: ARTIGO DETECÇÃO PRECOCE

Por tiago em 22/08/2024 às 00:57
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
O que é a investigação de dose e por que fazê-la?

Todo indivíduo ocupacionalmente exposto (IOE) é monitorado por meio da utilização de dosímetros pessoais. Essa monitoração decorre do fato de a radiação ionizante apresentar um potencial risco ao profissional. Embora as doses de radiação no radiodiagnóstico sejam relativamente baixas quando comparadas às práticas de uma radioterapia, por exemplo, há uma modalidade dentro do radiodiagnóstico da qual não podemos negligenciar os níveis de dose: o intervencionismo. Os procedimentos intervencionistas requerem maiores períodos de tempo de exposição, justamente por conta de sua natureza intervencionista, o que aumenta, consequentemente, a dose a que os profissionais estão expostos. Assim, é muito comum que os dosímetros desses profissionais retornem com valores altos de dose. Mas o que é "um valor alto de dose"? Para responder a esta pergunta, precisamos falar das normas CNEN NN 3.01, da Comissão Nacional de Energia Nuclear, e da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 611, da ANVISA [1, 2]. A norma NN 3.01 traz os limites de dose dos profissionais e ainda disserta sobre a necessidade da realização da investigação de dose, caso esses limites sejam ultrapassados. A RDC adota os valores estabelecidos na NN 3.01. Em sua subseção III intitulada “limitação de dose”, o documento da CNEN estabelece que o limite anual de dose efetiva para um IOE é de 20 mSv. Já no anexo E, na parte de monitoração individual, o documento, em seu artigo 19, determina que o nível de investigação seja fixado em 6 mSv em 1 ano ou 1 mSv em 1 mês. Ou seja, podemos considerar que 1 mSv de dose efetiva registrada no relatório de dose de um IOE se trata de “um valor alto de dose”. O nível de investigação, segundo a CNEN, é o “valor de uma grandeza, definido ou aprovado pela CNEN, que faz parte de um programa de monitoração, que quando atingido ou excedido, torna obrigatória a investigação das suas causas, avaliação das consequências e ações corretivas necessárias” [1]. Ou seja, a partir da constatação de um nível de dose superior ao valor estabelecido na NN 3.01, é preciso realizar uma investigação sobre as causas desta extrapolação e, com isso, tentar dirimir futuras repetições deste mesmo problema. Além disso, a investigação de dose também tem um fator educacional envolvido; é preciso alertar aos IOEs que existem meios de reduzir a dose efetiva. No caso da radiologia intervencionista, o tempo de exposição é o maior gargalo neste sentido. Contudo, existem outras formas que podem ser aliadas do profissional na hora da execução do procedimento. São eles os outros dois fatores de radioproteção – a blindagem e a distância – e os parâmetros técnicos utilizados no procedimento. Nem todos os procedimentos precisam de uma alta resolução temporal, ou seja, podemos tentar reduzir a quantidade imagens geradas por segundo, o que reflete na dose. Temos como reduzir também a dose por meio do posicionamento do tubo de raios X na hora do procedimento. E tudo isto visa o bem-estar físico do indivíduo que estará exposto à radiação durante a sua vida profissional. Em 2021, a CNEN publicou o documento “Guia para elaboração de relatório de investigação de doses ocupacionais para práticas e instalações licenciadas pela Coordenação Geral de Instalações Médicas e Industriais” [3], que traz as diretrizes a serem seguidas para a realização e a apresentação de relatórios sobre as exposições ocupacionais. Segundo este documento, o objetivo da investigação de dose é “descobrir as causas raízes dos eventos e descrever as medidas corretivas e preventivas adotadas em função das falhas detectadas em procedimentos, equipamentos, comportamentos humanos e organizacionais, de modo que o risco associado às exposições potenciais ocupacionais seja minimizado”. Em resumo, a investigação de dose deve ocorrer para que se entendam os motivos da extrapolação da dose efetiva do IOE, a fim de evitar repetições e, dessa forma, reduzir os riscos que a radiação ionizante apresenta ao tecido humano daquele indivíduo que trabalha exposto.    Fonte da imagem: TEC-RAD. Dosimetria Pessoal. Disponível em: https://www.tec-rad.com.br/dosimetria-pessoal.html. Acesso em: 25 jul. 2024.   Texto elaborado por físico Bruno Fabricio de Oliveira Lisboa - NUCLEORAD   [1] CNEN, N. N. 3.01. Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica, 2005. [2] ANVISA. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Resolução no 611, de 09 de março de 2022. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 mar. 2022. Disponível em: < https://cvs.saude.sp.gov.br/zip/RDC%20611%202022.pdf>. Acesso em: 23/07/2024. [3] BRASIL. Guia para elaboração de relatório de investigação de doses ocupacionais para práticas e instalações licenciadas pela Coordenação Geral de Instalações Médicas e Industriais. Brasília: Ministério da Saúde, 2023. Disponível em: https://www.saude.gov.br/guia-doses-ocupacionais. Acesso em: 5 ago. 2024.

Por tiago em 08/08/2024 às 12:54
A Importância do Levantamento Radiométrico em Salas de Bloco Cirúrgico

O levantamento radiométrico é uma prática essencial em ambientes onde a radiação ionizante é utilizada, como nas salas de bloco cirúrgico. A  RDC 611 de 09 de março de 2022, estabelece os objetivos do levantamento radiométrico, que é avaliar os níveis de radiação ionizante em diferentes pontos, assegurar que as áreas de trabalho estejam dentro dos limites recomendados e o Art. 64 determina que sua periodicidade é de 4 anos ou quando houver modificações na estrutura ou equipamentos. Aqui estão os principais motivos que destacam a importância do levantamento radiométrico em salas de bloco cirúrgico: Segurança dos Profissionais de Saúde Exposição Ocupacional: Os profissionais de saúde que trabalham regularmente em blocos cirúrgicos, como cirurgiões, enfermeiros e técnicos de radiologia, estão potencialmente expostos a níveis elevados de radiação. O levantamento radiométrico assegura que a exposição cumulativa esteja dentro dos limites aceitáveis Segurança dos Pacientes Minimização da Exposição: Garantir que os níveis de radiação ambiental estejam controlados ajuda a minimizar a exposição desnecessária, especialmente em procedimentos que requerem múltiplas imagens. O levantamento radiométrico garante que as barreiras protetoras e as distâncias de segurança estejam corretamente implementadas, protegendo áreas sensíveis do corpo do paciente. Identificação e Correção de Problemas: O levantamento radiométrico ajuda a identificar áreas onde a radiação pode estar escapando de fontes não controladas, permitindo ações corretivas imediatas. Desgaste e Manutenção de Equipamentos, detectar níveis de radiação anormais pode indicar problemas em equipamentos radiológicos, como desgastes em blindagens ou mau funcionamento de dispositivos, permitindo a manutenção preventiva. Treinamento Adequado: Os dados obtidos podem ser usados para desenvolver programas de treinamento específicos, focados na redução da exposição e no uso correto dos EPIs.                                                   O levantamento radiométrico em salas de bloco cirúrgico é fundamental para garantir a segurança dos profissionais de saúde e dos pacientes, assegurar a conformidade com regulamentações, identificar e corrigir problemas rapidamente e promover uma cultura de segurança e conscientização. Implementar e manter um programa de levantamento radiométrico é essencial para qualquer instituição de saúde que utilize radiação ionizante em seus procedimentos Texto elaborado pelo físico Tiago Langone – supervisor técnico NUCLEORAD

Por Adriano Goulart em 21/06/2024 às 15:44
Os diversos monitores utilizados na proteção radiológica e suas funções

         A radiação ionizante (RI) é aquela que tem a capacidade de arrancar elétrons dos átomos com os quais interage [1]. Os raios X (RX), que são ondas eletromagnéticas (fótons) de alta frequência, se enquadram nesta categoria. Porém, diferentemente da região do espectro que é classificada como visível (região das cores), não conseguimos enxergá-los, o que não quer dizer que eles não existam. Afinal, como são feitas, então, as radiografias, não é verdade? Ainda que essa pergunta seja interessante, hoje falaremos apenas das diversas formas que temos atualmente para detectarmos essa radiação eletromagnética ionizante invisível.           Primeiramente, é preciso introduzir brevemente alguns conceitos importantes relacionados à interação da radiação com a matéria. Podemos entender, simplificadamente, radiação como fluxo de energia de um ponto a outro [2]. Em um equipamento de raios X, por exemplo, esse fluxo ocorre do tubo de radiação, que gera os raios X, até um determinado ponto afastado da fonte, lembrando que a intensidade do feixe obedece à regra do inverso do quadrado da distância (ou seja, quanto mais afastado da fonte, menor será a intensidade do feixe gerado – tal qual a intensidade de uma lanterna do farol de um carro, por exemplo, que ilumina bastante alguns metros à frente, mas não o suficiente para iluminar quilômetros a frente, consegue associar?).             Além disso, é importante entender também o que é o processo de ionização, que é caracterizado pela capacidade de cessão de energia da radiação ionizante à matéria de tal forma que sejam criados pares elétron livre-buraco no átomo do material [2]. O elétron, antes ligado eletricamente ao átomo, consegue energia suficiente – cedida pela radiação ionizante – para se “libertar”, deixando em seu lugar um “buraco”.             Para haver a detecção, é necessário, portanto, que haja uma interação com a radiação. Esta interação se trata, basicamente, deste processo de ionização, que é o que ocorre em praticamente todos os detectores que conhecemos atualmente. Após a ionização, é preciso também estabelecer métodos de coleta e de leitura/análise dos elétrons. Este último processo diferencia os diversos detectores.             Antes de falarmos propriamente dos detectores, os classificaremos da seguinte forma: detectores passivos e detectores ativos. Os detectores passivos são aqueles que não têm associados a si um leitor eletrônico e que, por isso, precisam ser levados a instrumentos específicos para que a leitura seja realizada. Já os detectores ativos são aqueles que já mostram a leitura na hora da interação com a radiação.             Os detectores passivos mais conhecidos são aqueles de uso pessoal, como os dosímetros termoluminescentes (TLD) e os opticamente estimulados (OSL), bastante utilizados no monitoramento dos indivíduos ocupacionalmente expostos (IOEs). São também detectores passivos os antigos filmes radiográficos – porém a tendência é que esta tecnologia se torne obsoleta com o advento dos detectores digitais diretos. Como exemplo de detectores ativos, podemos citar as câmaras de ionização e o Geiger muller – que são detectores a gás, os detectores de estado sólido e alguns cintiladores.             Os TLDs e o OSLs são dispositivos de estado sólido que armazenam a energia acumulada da RI em sua rede cristalina. Eles funcionam de maneira semelhante, porém o modo de leitura é distinto; enquanto o primeiro é estimulado por meio de aquecimento, o segundo é estimulado por aplicação de luz. A RI, como dito anteriormente, provoca a ionização dos elétrons, que ganham energia e são arrancados da rede cristalina. Por conta de impurezas – dopagem química - na rede destes materiais, os elétrons ficam presos nestas zonas até que um outro tipo de energia (no caso do TLD, calor e no caso do OSL, luz) seja cedida para que eles sejam liberados [3].             Os detectores a gás são assim chamados porque o material que interage com a RI é um gás. A RI ioniza as moléculas do gás presas em um recipiente cilíndrico e produz uma cascata de elétrons, que são coletados por meio da aplicação de uma diferença de potencial entre os polos do cilindro. A magnitude desta diferença de potencial potencializa a utilização do detector a depender da sua aplicabilidade (como mostra a Figura 1), uma vez que há diversos interesses de uso desse instrumento [4]. O Geiger-muller, por exemplo, que é um detector bastante utilizado na medicina nuclear, é utilizado apenas para detectar radiação ionizante no ambiente (por ser classificado na região V da Figura 1, qualquer ionização presente no gás é coletada devido ao alto potencial aplicado). Já a câmara de ionização, que também é a gás, é bastante utilizada para estabelecer o nível de radiação ionizante com precisão porque estabelece uma relação quase proporcional ao que é ionizado e o que é coletado. Por isto, este tipo de detector é bastante utilizado no radiodiagnóstico nos levantamentos radiométricos e testes de fuga de cabeçote e em alguns testes de CQ.                                        Figura 1: Log dos íons coletados em função da voltagem aplicada em um detector à gás. Disponível em TAUHATA, Luiz et al. Radioproteção e dosimetria: fundamentos. CBPF, 2003 [3].                Os detectores de estado sólido funcionam de maneira parecida com os TLD. Porém, diferentemente deles, estes detectores têm associados a si um campo elétrico responsável por aplicar uma diferença de potencial que coleta os elétrons criados na ionização, o que faz gerar um sinal elétrico, que será lido e mostrado em uma tela. Neste caso, a estrutura do material é também explicada pela teoria de bandas do material. Por se tratar de uma física mais pesada e por fugir um pouco do escopo do artigo, não trataremos profundamente deste assunto aqui, mas deixo como sugestão a leitura do capítulo 6.7 do livro do Tahuata [3].             Fato é que os detectores de estado sólido (ou semicondutores) são bastante utilizados na prática do físico médico. Eles são utilizados no feixe direto de radiação, ao contrário dos detectores a gás, que em geral são utilizados para feixes secundários. Além disso, os semicondutores são também multimedidores, o que possibilita a eles a leitura de diversas outras grandezas sem ser a dose de radiação, como a tensão do tubo de raios X, o tempo de exposição e a camada semirredutora, que são parâmetros de interesse no controle de qualidade de um raios X.                                                        Fonte da imagem: Sítio eletrônico da UESC. Disponível em: http://www.uesc.br/centros/ctr/modulos/infraestrutura/geral/equipamento.php?lab=lrad&eq=controle_radiacao&pic=1. Acessado em: 31/05/2024.   Texto elaborado por físico médico Bruno Lisboa – especialista em radiodiagnóstico – NUCLEORAD.   Referências Bibliográficas   [1] NUSSENZVEIG, Herch Moysés. Curso de física básica: Ótica, relatividade, física quântica (vol. 4). Editora Blucher, 2014. [2] ATTIX, Frank Herbert. Introduction to radiological physics and radiation dosimetry. John Wiley & Sons, 2008. [3] TAUHATA, Luiz et al. Radioproteção e dosimetria: fundamentos. CBPF, 2003. [4] KNOLL, Glenn F. Radiation detection and measurement. John Wiley & Sons, 2010.

Por Adriano Goulart em 06/06/2024 às 12:05