Desmistificando o Transporte de Materiais Radioativos
Quando as pessoas veem um veículo sinalizado com o símbolo de radiação, é muito comum que sintam medo, insegurança e até pânico. Isso acontece, em grande parte, porque ainda existe desconhecimento sobre o que realmente significa transportar materiais radioativos. O tema está cercado de mitos, muitos deles alimentados por filmes, séries e notícias sensacionalistas que não refletem a realidade. O que poucas pessoas sabem é que esse transporte faz parte do nosso dia a dia e é fundamental para áreas como a medicina, a indústria, a agricultura e a pesquisa científica. Materiais radioativos são essenciais, por exemplo, para realizar exames de diagnóstico, como cintilografia e PET-CT; tratam diversos tipos de câncer; além de serem utilizados em processos industriais e no controle de pragas na agricultura.
O transporte desses materiais é seguro e segue rigorosos padrões internacionais, estabelecidos pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e, no Brasil, pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Ao contrário do que muitos imaginam, os veículos não estão simplesmente carregando algo perigoso de forma desprotegida. Na verdade, a sinalização é uma exigência regulatória que tem como objetivo garantir a transparência do que está sendo transportado e o tipo associado à carga perigosa, no caso do radioativo classe 7. Esses materiais são acondicionados em embalagens muito resistentes, projetadas para suportar situações, como quedas, incêndios, impactos e até imersão em água, tudo isso sem que haja qualquer risco de vazamento ou contaminação, conforme CNEN NN 5.01 Regulamento para o Transporte Seguro de Materiais Radioativos.
É muito comum ouvir comentários como “Se esse caminhão/veículo bater, vai espalhar radiação por toda parte” ou “O motorista deve estar se contaminando”. Esses são mitos totalmente infundados. As embalagens possuem blindagem que garante que a radiação não ultrapasse níveis seguros, protegendo tanto os profissionais envolvidos quanto a população em geral. Inclusive, as doses de radiação que os motoristas recebem durante o transporte são extremamente baixas, muito abaixo dos limites considerados seguros pelos órgãos reguladores.
Outro equívoco muito frequente é associar esses materiais ao conceito de lixo nuclear. Isso não é verdade. Os materiais transportados são radioisótopos específicos, muitos deles com meia-vida curta, que perdem rapidamente sua radioatividade. Eles não têm nenhuma relação com resíduos de usinas nucleares ou com o conceito de contaminação permanente que muitas pessoas imaginam.
O símbolo de radiação presente nos veículos também costuma gerar apreensão, mas ele não significa perigo iminente. Na verdade, essa sinalização é uma exigência legal que tem como objetivo garantir a transparência, informar sobre o tipo de carga e facilitar o trabalho das equipes de emergência, caso seja necessário. Assim como caminhões/veículos que transportam combustíveis ou produtos químicos perigosos também possuem sinalizações específicas, os veículos que transportam materiais radioativos seguem o mesmo princípio de segurança.
Todo esse processo é controlado de forma rigorosa. As empresas que realizam esse tipo de transporte precisam ser licenciadas, os motoristas passam por treinamentos específicos para lidar com qualquer situação, as rotas são monitoradas, os veículos possuem rastreadores, e os órgãos responsáveis realizam auditorias e fiscalizações para garantir que tudo seja feito dentro dos mais altos padrões de segurança.
Portanto, o transporte de materiais radioativos não é motivo de medo, mas sim de responsabilidade e de compromisso com a sociedade. Esses materiais fazem parte de cadeias que salvam vidas todos os dias, seja no diagnóstico e no tratamento de doenças, seja em aplicações industriais e agrícolas que beneficiam toda a população. O medo, muitas vezes, nasce da desinformação, e é justamente por isso que divulgar conhecimento sobre o assunto é tão importante. Entender como tudo funciona ajuda a substituir o medo pela confiança na ciência, nos profissionais e nas normas que garantem que todo esse processo seja realizado com máxima segurança.
Se você cruzar com um desses veículos/caminhões na estrada ou na cidade, lembre-se: eles estão transportando saúde, desenvolvimento e tecnologia a serviço da população com muita segurança.
A NUCLEORAD possui todas as certificações regulatórias e dentro de sua política de qualidade busca atender sempre com todas as operações que envolvem o transporte de material radioativo.
Texto elaborado pelo estagiário Rafael Borges de Carvalho – graduando em Física Médica pela UFCSPA – NUCLEORAD.
Referências:
COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR (CNEN). Norma CNEN NN 2.05 – Proteção Física no Transporte de Materiais Nucleares e Outros Materiais Radioativos. Resolução CNEN nº 339, de 17 de abril de 2025. Disponível em: https://www.gov.br/cnen/pt-br/acesso-rapido/normas/grupo-2/NormaCNENNN2.05.pdf
COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR (CNEN). Norma CNEN NN 3.01 - Diretrizes básicas de proteção radiológica. Resolução CNEN nº 164, de 24 de março de 2014. Disponível em: https://www.gov.br/cnen/pt-br/acesso-rapido/normas/grupo-3/grupo3-nrm301.pdf
COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR (CNEN). Norma CNEN NN 5.01 – Regulamento para o Transporte Seguro de Materiais Radioativos. Resolução CNEN nº 271, de 25 de março de 2021. Disponível em: https://www.gov.br/cnen/pt-br/acesso-rapido/normas/grupo5/grupo5_nrm571.pdf
Por Bruna em 06/06/2025 às 15:05