Manutenção Preventiva x Manutenção Corretiva em Equipamentos Médicos de Radiodiagnóstico
A Física Médica é uma área essencial na interface entre tecnologia e saúde, sendo responsável, entre outras atribuições, por garantir a qualidade, a segurança e a eficácia dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos que envolvem radiações ionizantes. No contexto do radiodiagnóstico, que abrange equipamentos como raios X convencionais, mamógrafos, tomógrafos computadorizados e sistemas digitais de imagem, a manutenção adequada dos equipamentos é vital para assegurar tanto a precisão dos diagnósticos quanto a proteção radiológica de pacientes, profissionais e do ambiente. Nesse cenário, destaca-se a importância da distinção e da aplicação adequada de dois tipos fundamentais de manutenção: a manutenção preventiva e a manutenção corretiva.
Manutenção Preventiva: A Atuação Proativa
A manutenção preventiva consiste em um conjunto de ações sistemáticas e planejadas, com o objetivo de preservar o funcionamento ideal dos equipamentos, antecipando falhas e reduzindo a probabilidade de interrupções. Envolve inspeções periódicas, testes de desempenho, calibrações, limpeza de componentes, atualizações de software e substituições programadas de peças críticas, conforme recomendações dos fabricantes e normas técnicas. Do ponto de vista da Física Médica, essa abordagem é essencial por diversas razões.
Primeiramente, equipamentos de radiodiagnóstico devem operar dentro de parâmetros rigorosos de qualidade da imagem e de dose de radiação. A atuação do físico médico, por meio de testes de controle de qualidade, permite verificar se o sistema está entregando imagens diagnósticas com resolução, contraste e ruído adequados, e se a dose administrada ao paciente está dentro dos limites aceitáveis. A manutenção preventiva garante, portanto, a repetibilidade e a reprodutibilidade desses parâmetros, além de contribuir para a segurança radiológica.
Além disso, a prevenção de falhas evita a exposição desnecessária de pacientes a exames repetidos devido a imagens de má qualidade, o que se traduz em menor dose acumulada e menor risco de efeitos estocásticos. Outro ponto crítico é a continuidade dos serviços de imagem: a parada inesperada de um tomógrafo, por exemplo, pode comprometer rotinas clínicas, causar atrasos em diagnósticos importantes e sobrecarregar outros setores do hospital. A manutenção preventiva é, portanto, uma prática que alinha eficiência operacional e cuidado centrado no paciente.
Manutenção Corretiva: A Resposta à Falha
Já a manutenção corretiva é aquela realizada após a ocorrência de uma falha. Embora inevitável em certos contextos, ela reflete uma postura reativa, onde o problema já causou impactos clínicos, técnicos ou operacionais. A depender da gravidade da falha, o tempo de inatividade do equipamento pode ser elevado, exigindo recursos adicionais, como deslocamento de pacientes para outros centros, remarcação de exames e, em casos extremos, prejuízos diagnósticos.
No campo da Física Médica, a manutenção corretiva representa um desafio, pois exige, muitas vezes, uma revalidação completa do equipamento antes de sua reinserção na rotina clínica. Isso inclui a repetição de testes de aceitação e controle de qualidade, verificação da calibração dos sistemas de dose e, eventualmente, a investigação de possíveis exposições acidentais. Além disso, a ocorrência de falhas pode ser indicativo de fragilidades na gestão tecnológica da instituição, como ausência de um programa estruturado de manutenção preventiva, falhas na capacitação da equipe técnica ou limitações orçamentárias.
A escolha entre manutenção preventiva e corretiva não deve ser vista como uma simples decisão operacional, mas sim como parte de uma política abrangente de gestão de tecnologias em saúde, na qual a Física Médica desempenha um papel estratégico. A atuação do físico médico, em parceria com a engenharia clínica e os fabricantes, é essencial para definir protocolos de manutenção alinhados com as normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e de organismos internacionais como a IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
Em resumo, a manutenção preventiva é a melhor aliada da segurança, da qualidade e da sustentabilidade no uso de tecnologias de imagem médica. Embora a manutenção corretiva seja, por vezes, necessária, sua ocorrência deve ser minimizada por meio de uma abordagem proativa, baseada em evidências e sustentada por uma equipe multiprofissional capacitada. Nesse contexto, a Física Médica não apenas atua como guardiã da segurança radiológica, mas também como promotora da excelência técnica e clínica no uso dos equipamentos de radiodiagnóstico.
Texto elaborado por Bruna Vitola Lovato – Física Médica NUCLEORAD
Por Bruna em 16/04/2025 às 09:33