NucleoBlog
Indústria, Medicina Nuclear e Transportes
Radiografia Infantil com Segurança: Tudo Sobre a Proteção de Acompanhantes nos Exames

Os exames de radiografia são ferramentas fundamentais na prática clínica, especialmente em pediatria, onde auxiliam no diagnóstico de uma ampla variedade de condições. Nesses casos, é comum que a criança seja acompanhada por um dos pais ou cuidadores, tanto para fornecer conforto emocional quanto para ajudar na contenção física durante a aquisição da imagem. No entanto, a presença do acompanhante dentro da sala de exame deve ser cuidadosamente avaliada do ponto de vista da proteção radiológica, uma vez que se trata de uma pessoa saudável, sem qualquer benefício direto da exposição à radiação ionizante. De acordo com a RDC nº 611/2022 da ANVISA, a entrada de acompanhantes em exames radiológicos só é permitida quando estritamente necessária, como em situações envolvendo pacientes pediátricos, idosos ou com deficiências, desde que seja imprescindível para a realização do procedimento. Nessas ocasiões, é obrigatório fornecer Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados e garantir que o acompanhante seja previamente orientado sobre os riscos e condutas durante o exame. A exposição à radiação ionizante, mesmo em pequenas doses, deve sempre ser evitada ou minimizada, em conformidade com os princípios de justificação, otimização e limitação da dose estabelecidos pelas diretrizes internacionais de proteção radiológica. Entre os EPIs mais utilizados destaca-se o avental plumbífero, geralmente confeccionado com espessura de 0,5 mm de chumbo equivalente, capaz de atenuar entre 90% e 99% da radiação espalhada, dependendo da energia do feixe. Esses aventais pesam em média de 4 a 7 kg, podendo gerar certo desconforto quando usados por longos períodos, especialmente em pessoas de porte físico mais leve ou em situações de ansiedade. Além do avental, é recomendado o uso de protetores de tireoide, óculos plumbíferos e, em alguns casos, luvas, principalmente quando o acompanhante precisa posicionar a criança. Sempre que possível, deve-se optar por posicionar o acompanhante atrás de uma barreira plumbífera ou oferecer a observação do exame por meio de uma janela com proteção, evitando a necessidade de sua entrada na sala. Caso a presença na sala seja indispensável, o acompanhante deve permanecer fora da direção do feixe primário, de preferência atrás da cabeça da criança ou do lado oposto ao tubo de raios X, sempre utilizando corretamente os EPIs fornecidos. É essencial que ele permaneça imóvel durante a exposição, evite tocar no equipamento e siga rigorosamente as instruções fornecidas pela equipe de saúde. A comunicação clara e humanizada é um aspecto essencial nesse contexto. Segundo uma revisão sistemática realizada por Lopes (2019), muitos pais e cuidadores demonstram desconhecimento sobre os riscos da radiação e os motivos da adoção das medidas protetivas, o que pode gerar insegurança, resistência ao uso dos EPIs ou comportamentos inadequados durante o exame. Esse cenário evidencia a necessidade de um esforço maior por parte das instituições e dos profissionais de saúde em promover a educação em radioproteção, especialmente para acompanhantes de crianças. A simples entrega de um colete de chumbo não garante proteção adequada se não vier acompanhada de uma explicação compreensível, empática e fundamentada nos princípios da segurança. Além disso, é fundamental que se registre adequadamente a presença do acompanhante na sala, bem como a utilização dos EPIs, seguindo as exigências legais e assegurando a rastreabilidade das ações adotadas. Situações envolvendo acompanhantes gestantes merecem ainda mais atenção. A presença de gestantes na sala deve ser evitada sempre que possível. Quando não houver outra alternativa, a exposição precisa ser avaliada com cautela e autorizada formalmente, preferencialmente com a assinatura de um termo de ciência. A RDC 611/2022 determina que a equipe deve questionar a possibilidade de gestação em todas as mulheres em idade fértil antes da realização de exames radiológicos, tanto para pacientes quanto para acompanhantes. A proteção radiológica dos acompanhantes de crianças em exames de radiografia não se resume ao uso de barreiras físicas. Ela envolve planejamento, empatia, responsabilidade legal e compromisso com a segurança de todos os envolvidos. O papel dos profissionais da Física Médica, da enfermagem e dos técnicos em radiologia é essencial para garantir que essas medidas sejam implementadas de forma adequada e consistente. Quando esses cuidados são colocados em prática, é possível assegurar que os exames sejam realizados com sucesso, protegendo tanto o paciente quanto quem está ali para cuidar dele. Texto elaborado pelo estagiário Eduardo Berna – graduando em Física Médica pela UFCSPA – NUCLEORAD   Referências: [1] BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 611, de 9 de fevereiro de 2022. Dispõe sobre os Requisitos de Boas Práticas em Radiodiagnóstico Médico. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 10 fev. 2022.  [2] Lopes AJ. O conhecimento que os pais ou cuidadores de crianças submetidas a exames radiológicos têm sobre o risco do exame: revisão sistemática [dissertation]. Lisboa: Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa/Instituto Politécnico de Lisboa; Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve; 2019. Disponivel em: [https://repositorio.ipl.pt/bitstreams/b04aa055-4e59-4512-b484-04060438de5d/download]  

Por Bruna em 13/05/2025 às 14:48
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Artefatos em Tomografia Computadorizada: O Que São, Como Aparecem e Como a Física Médica Ajuda a Evitá-los

A tomografia computadorizada (TC) é uma das modalidades mais utilizadas no diagnóstico por imagem. Através da sua utilização, é possível realizar avaliações rápidas, detalhadas e não invasivas de diversas regiões do corpo humano. No entanto, mesmo com sua alta tecnologia, a TC está sujeita a artefatos, que são distorções indesejadas nas imagens geradas. Essas alterações podem prejudicar a qualidade do exame e até interferir no diagnóstico médico, caso não sejam identificadas e corrigidas adequadamente. Neste cenário, cabe ao físico médico atuar na prevenção, detecção e correção desses artefatos, garantindo que o equipamento funcione dentro dos padrões estabelecidos e que as imagens produzidas sejam confiáveis, com segurança e qualidade para os pacientes. O que são artefatos?  Artefatos são sinais incorretos ou distorções que aparecem nas imagens tomográficas e que não correspondem a estruturas reais do corpo humano. Podem ser causados por fatores como: características do paciente, limitações do equipamento, parâmetros de aquisição mal ajustados ou ainda por falhas técnicas. Também, é importante ressaltar que os artefatos podem dificultar a visualização de estruturas anatômicas, simular patologias inexistentes ou até mesmo ocultar lesões importantes. Por isso, compreendê-los é importante para a equipe envolvida com exames de TC, sendo os principais:   Artefato Metálico  Causado pela presença de objetos metálicos no corpo do paciente, como próteses ortopédicas, obturações dentárias ou piercings. Aparência: linhas brilhantes ou escuras em forma de rastro, que se espalham a partir do metal. Motivo: o metal atenua fortemente o feixe de raios X, gerando distorções na reconstrução da imagem. Prevenção: remoção de objetos metálicos antes do exame, uso de algoritmos de correção de artefatos e ajustes específicos no protocolo de aquisição. Artefato de Movimento Ocorre quando o paciente se move durante a aquisição da imagem — o que pode acontecer em exames longos, em crianças ou em pacientes com dor ou confusão mental. Aparência: imagens borradas ou com duplicação de estruturas. Motivo: o movimento gera inconsistências entre os dados adquiridos. Prevenção: instruções claras ao paciente, uso de apoios de imobilização e protocolos com tempos de aquisição mais curtos. Artefato de Endurecimento do Feixe (Beam Hardening) Comum em regiões com alta densidade, como a base do crânio, ocorre quando as energias mais baixas do feixe são absorvidas antes de chegar ao detector. Aparência: faixas escuras ou em forma de cuia entre estruturas densas. Motivo: o feixe de raios X chega mais "duro" ao detector, alterando os cálculos de reconstrução. Prevenção: uso de filtros, técnicas de correção por software e protocolos adaptados à região anatômica. Nesse sentido, a física médica exerce um papel fundamental no enfrentamento dos artefatos em tomografia computadorizada. Além de realizar os testes regulares de controle de qualidade, o físico médico também atua na configuração de protocolos de aquisição, na capacitação da equipe técnica e na análise de imagens, visando garantir a qualidade e a segurança dos exames. Entre suas principais responsabilidades estão os testes de controle de qualidade com o objetivo de avaliar parâmetros como a uniformidade da imagem e o nível de ruído. Essas verificações seguem as normas como a Instrução Normativa – IN nº 93, de 27 de maio de 2021, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que estabelece requisitos sanitários para assegurar a qualidade e a segurança dos sistemas de tomografia computadorizada médica. Portanto, os artefatos em tomografia são obstáculos técnicos que podem ser enfrentados com conhecimento, prática e monitoramento. Com o apoio da física médica, é possível minimizar sua ocorrência e assegurar que cada imagem reflita, com fidelidade, a realidade anatômica do paciente. Assim, garante-se não apenas a eficácia diagnóstica, mas também a segurança radiológica, pilares fundamentais da boa prática em diagnóstico por imagem.   Texto elaborado por Rafael Borges de Carvalho – graduando em Física Médica pela UFCSPA – NUCLEORAD.   Referências:   BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução Normativa nº 93, de 27 de maio de 2021. Estabelece os requisitos sanitários para garantir a qualidade e a segurança em sistemas de tomografia computadorizada médica. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 158, n. 101, p. 197, 31 maio 2021. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-in-n-93-de-27-de-maio-de-2021-322319878. Acesso em: 6 maio 2025.   BUSHBERG, Jerrold T. et al. The Essential Physics of Medical Imaging. 3. ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2011.    

Por Bruna em 07/05/2025 às 09:43
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Controle de Qualidade em Radiografia Intraoral: Atuação do Físico Médico

A radiografia intraoral é amplamente utilizada na odontologia, sendo essencial para o diagnóstico de diversas condições bucais. Entretanto, o uso de radiação ionizante impõe a necessidade de controle rigoroso da qualidade dos equipamentos e da segurança radiológica. Este artigo aborda a atuação do físico médico na implementação e execução de programas de controle de qualidade em equipamentos de raio X intraoral. São descritos os principais testes realizados, os parâmetros avaliados, e a importância da documentação técnica para fins regulatórios A radiografia intraoral  Ferramenta indispensável na odontologia moderna, permiti o diagnóstico preciso de cáries, lesões ósseas, alterações periodontais e outras condições orais. Entretanto, a emissão de radiação ionizante, ainda que em baixas doses, representa um risco potencial à saúde humana se não for adequadamente controlada. Neste contexto, o físico médico é o profissional legalmente habilitado para atuar na avaliação da qualidade e segurança dos equipamentos radiológicos. Segundo a legislação brasileira, como a RDC 611 de 09 de março de 2022, o controle de qualidade é obrigatório em serviços que utilizam radiação ionizante, incluindo consultórios odontológicos. Métodos O controle de qualidade dos equipamentos de raio X intraoral consiste na realização periódica de testes específicos, utilizando instrumentos calibrados e protocolos padronizados. Os principais testes incluem:     Avaliação da Tensão (kVp) O controle do potencial de pico (kVp) assegura que o valor nominal esteja de acordo com o real, impactando diretamente na penetração da radiação e no contraste da imagem. Verificação do Tempo de Exposição Testa a precisão e exatidão dos tempos selecionados no console do equipamento, fator crucial para evitar sub ou superexposição do sensor/receptor de imagem. Reprodutibilidade da Radiação A constância na emissão de dose em exposições repetidas é verificada para garantir imagens consistentes em condições idênticas. Alinhamento do Feixe e Colimação Verifica-se a coincidência entre o centro do feixe e o receptor, bem como a presença e eficácia da colimação retangular, que reduz significativamente a dose ao paciente. Avaliação da Filtração Confirma se o sistema possui filtração mínima adequada, eliminando radiações de baixa energia que não contribuem para a imagem, mas aumentam a dose absorvida. Teste de Qualidade da Imagem Utiliza-se fantomas específicos para aferir a resolução espacial, contraste e presença de artefatos que possam comprometer o diagnóstico.   Resultados A implementação adequada de um programa de controle de qualidade permite: Redução da dose ao paciente, ao evitar repetições de exames e otimizar os parâmetros de exposição. Aumento da vida útil dos equipamentos, pela detecção precoce de falhas técnicas. Padronização da qualidade da imagem, assegurando confiança diagnóstica. Conformidade com normas regulatórias, o que previne sanções legais e assegura boas práticas.   Estudos mostram que muitos consultórios odontológicos operam com equipamentos sem manutenção regular, o que acarreta riscos à saúde pública. A presença do físico médico garante não apenas o cumprimento da legislação vigente, mas também a difusão de uma cultura de segurança e qualidade nos serviços odontológicos. O físico médico desempenha um papel essencial no controle de qualidade de equipamentos de raio X intraoral, promovendo a segurança dos pacientes e a eficácia dos diagnósticos odontológicos. A realização periódica de testes técnicos, acompanhada de relatórios detalhados e recomendações corretivas, contribui significativamente para a melhoria contínua dos serviços que utilizam radiação ionizante na odontologia. Texto elaborado por Tiago Langone – Físico Médico NUCLEORAD Referências ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 611, de 09 de março de 2022. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2022. CNEN. Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica - CNEN NN 3.01. Comissão Nacional de Energia Nuclear, 2014. IAEA. Radiation Protection in Dental Radiology. International Atomic Energy Agency, 2018.  

Por Bruna em 29/04/2025 às 11:17
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Radiação e Irradiação: Entendendo os Conceitos Fundamentais na Física Médica

A terminologia empregada na física médica é, por vezes, fonte de confusão, especialmente no que se refere aos conceitos de radiação e irradiação. Embora intimamente relacionados, esses termos possuem definições distintas e aplicações específicas dentro dos contextos clínico, industrial e científico. A radiação pode ser definida como a propagação de energia por meio de ondas eletromagnéticas ou partículas subatômicas. Do ponto de vista físico, trata-se de uma manifestação de energia que se propaga no espaço ou através de um meio material. Essa radiação pode ser classificada, de forma geral, em dois tipos: ionizante e não ionizante. A radiação ionizante possui energia suficiente para ionizar átomos, isto é, remover elétrons de seus orbitais. Exemplos típicos incluem a radiação alfa (α), beta (β), partículas pesadas, raios X e radiação gama (γ). Por outro lado, a radiação não ionizante não promove ionização direta, mas pode causar excitação molecular. Nesse grupo estão a luz visível, o infravermelho, as micro-ondas e as ondas de rádio. No âmbito da física médica, o interesse principal recai sobre a radiação ionizante, uma vez que ela é amplamente empregada em técnicas diagnósticas, como a radiografia, tomografia computadorizada e medicina nuclear, bem como em procedimentos terapêuticos, como a radioterapia externa e a braquiterapia. Já o termo irradiação refere-se ao ato de expor um material, organismo ou sistema físico à ação de uma fonte emissora de radiação. Trata-se de um processo deliberado de interação da radiação com a matéria. A irradiação pode ocorrer com diferentes finalidades. No contexto clínico, por exemplo, é utilizada em tratamentos oncológicos por meio da radioterapia, que emprega feixes fotônicos (raios X ou gama) ou partículas (como elétrons, prótons e íons pesados) para o combate de neoplasias malignas. No setor industrial e hospitalar, a irradiação é empregada na esterilização de materiais médico-hospitalares, utilizando-se principalmente radiação gama. Também é aplicada na conservação de alimentos, contribuindo para a eliminação de microrganismos patogênicos e para o aumento da vida útil dos produtos. É fundamental destacar que a irradiação, em condições normais de uso, não torna o material exposto radioativo. A exceção ocorre em situações específicas de exposição à radiação de nêutrons com captura nuclear significativa — um fenômeno raro nas aplicações médicas convencionais. Portanto, embora a radiação seja o fenômeno físico subjacente, a irradiação diz respeito ao processo de exposição a essa radiação. Conceitualmente, um termo não substitui o outro, embora ambos estejam ligados no contexto aplicado. A radiação representa a propagação de energia por ondas eletromagnéticas ou partículas, enquanto a irradiação corresponde ao ato de submeter algo à ação dessa radiação. Um exemplo prático pode ser observado na radioterapia externa (teleterapia), onde um acelerador linear gera radiação ionizante, na forma de raios X de alta energia. Ao direcionar esse feixe para a região tumoral, o paciente está sendo irradiado, ou seja, exposto à ação da radiação de forma controlada e planejada, com o objetivo de promover um efeito biológico terapêutico — como a destruição seletiva das células tumorais. Diferenciar os conceitos de radiação e irradiação é essencial para o entendimento correto dos processos físicos e biológicos envolvidos nas práticas da física médica. O uso seguro e eficaz das tecnologias que envolvem radiação depende, entre outros fatores, de uma terminologia clara, precisa e alinhada às recomendações das principais entidades reguladoras da área, como a IAEA (International Atomic Energy Agency) e a ICRP (International Commission on Radiological Protection). Texto por Letícia Fröhlich - Física Médica NUCLEORAD   Referências: Hall, E. J., & Giaccia, A. J. (2019). Radiobiology for the Radiologist (8th ed.). Wolters Kluwer. Khan, F. M., & Gibbons, J. P. (2014). Khan's The Physics of Radiation Therapy (5th ed.). Lippincott Williams & Wilkins. IAEA. (2017). Radiation Protection and Safety of Radiation Sources: International Basic Safety Standards (GSR Part 3).      

Por Bruna em 24/04/2025 às 16:51
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Manutenção Preventiva x Manutenção Corretiva em Equipamentos Médicos de Radiodiagnóstico

A Física Médica é uma área essencial na interface entre tecnologia e saúde, sendo responsável, entre outras atribuições, por garantir a qualidade, a segurança e a eficácia dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos que envolvem radiações ionizantes. No contexto do radiodiagnóstico, que abrange equipamentos como raios X convencionais, mamógrafos, tomógrafos computadorizados e sistemas digitais de imagem, a manutenção adequada dos equipamentos é vital para assegurar tanto a precisão dos diagnósticos quanto a proteção radiológica de pacientes, profissionais e do ambiente. Nesse cenário, destaca-se a importância da distinção e da aplicação adequada de dois tipos fundamentais de manutenção: a manutenção preventiva e a manutenção corretiva. Manutenção Preventiva: A Atuação Proativa A manutenção preventiva consiste em um conjunto de ações sistemáticas e planejadas, com o objetivo de preservar o funcionamento ideal dos equipamentos, antecipando falhas e reduzindo a probabilidade de interrupções. Envolve inspeções periódicas, testes de desempenho, calibrações, limpeza de componentes, atualizações de software e substituições programadas de peças críticas, conforme recomendações dos fabricantes e normas técnicas. Do ponto de vista da Física Médica, essa abordagem é essencial por diversas razões. Primeiramente, equipamentos de radiodiagnóstico devem operar dentro de parâmetros rigorosos de qualidade da imagem e de dose de radiação. A atuação do físico médico, por meio de testes de controle de qualidade, permite verificar se o sistema está entregando imagens diagnósticas com resolução, contraste e ruído adequados, e se a dose administrada ao paciente está dentro dos limites aceitáveis. A manutenção preventiva garante, portanto, a repetibilidade e a reprodutibilidade desses parâmetros, além de contribuir para a segurança radiológica. Além disso, a prevenção de falhas evita a exposição desnecessária de pacientes a exames repetidos devido a imagens de má qualidade, o que se traduz em menor dose acumulada e menor risco de efeitos estocásticos. Outro ponto crítico é a continuidade dos serviços de imagem: a parada inesperada de um tomógrafo, por exemplo, pode comprometer rotinas clínicas, causar atrasos em diagnósticos importantes e sobrecarregar outros setores do hospital. A manutenção preventiva é, portanto, uma prática que alinha eficiência operacional e cuidado centrado no paciente. Manutenção Corretiva: A Resposta à Falha Já a manutenção corretiva é aquela realizada após a ocorrência de uma falha. Embora inevitável em certos contextos, ela reflete uma postura reativa, onde o problema já causou impactos clínicos, técnicos ou operacionais. A depender da gravidade da falha, o tempo de inatividade do equipamento pode ser elevado, exigindo recursos adicionais, como deslocamento de pacientes para outros centros, remarcação de exames e, em casos extremos, prejuízos diagnósticos. No campo da Física Médica, a manutenção corretiva representa um desafio, pois exige, muitas vezes, uma revalidação completa do equipamento antes de sua reinserção na rotina clínica. Isso inclui a repetição de testes de aceitação e controle de qualidade, verificação da calibração dos sistemas de dose e, eventualmente, a investigação de possíveis exposições acidentais. Além disso, a ocorrência de falhas pode ser indicativo de fragilidades na gestão tecnológica da instituição, como ausência de um programa estruturado de manutenção preventiva, falhas na capacitação da equipe técnica ou limitações orçamentárias. A escolha entre manutenção preventiva e corretiva não deve ser vista como uma simples decisão operacional, mas sim como parte de uma política abrangente de gestão de tecnologias em saúde, na qual a Física Médica desempenha um papel estratégico. A atuação do físico médico, em parceria com a engenharia clínica e os fabricantes, é essencial para definir protocolos de manutenção alinhados com as normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e de organismos internacionais como a IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica). Em resumo, a manutenção preventiva é a melhor aliada da segurança, da qualidade e da sustentabilidade no uso de tecnologias de imagem médica. Embora a manutenção corretiva seja, por vezes, necessária, sua ocorrência deve ser minimizada por meio de uma abordagem proativa, baseada em evidências e sustentada por uma equipe multiprofissional capacitada. Nesse contexto, a Física Médica não apenas atua como guardiã da segurança radiológica, mas também como promotora da excelência técnica e clínica no uso dos equipamentos de radiodiagnóstico.   Texto elaborado por Bruna Vitola Lovato – Física Médica NUCLEORAD  

Por Bruna em 16/04/2025 às 09:33
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Cirurgias com Marcadores Não Invasivos e Não Radioativos: O Futuro da Visualização Médica

Na busca por métodos cada vez mais seguros e eficazes, a medicina tem avançado significativamente no desenvolvimento de técnicas de imagem que dispensam tanto o uso de radiação ionizante quanto procedimentos invasivos. Um dos campos que mais se beneficia dessas inovações é a cardiologia, onde marcadores não invasivos e não radioativos vêm sendo estudados e aplicados para a visualização funcional e anatômica do coração com alta precisão e segurança [1]. Tradicionalmente, a obtenção de imagens cardíacas funcionais envolvia o uso de radiofármacos em exames como PET e SPECT, que embora forneçam informações valiosas, exigem exposição à radiação e preparo específico do paciente. Além disso, muitas dessas abordagens demandam inserção de cateteres ou injeções, o que pode representar riscos, desconforto e limitações para pacientes com contraindicações. Diante desse cenário, tecnologias emergentes vêm propondo o uso de propriedades fisiológicas naturais do próprio corpo como "marcadores" — por exemplo, a movimentação e concentração de íons, como o sódio (Na⁺), ao longo de processos celulares normais [2]. A bomba de sódio-potássio (Na⁺/K⁺-ATPase) é um componente essencial das células miocárdicas, responsável por manter o equilíbrio eletroquímico e a excitabilidade do tecido cardíaco. Durante a atividade celular normal, a concentração de sódio intracelular é rigidamente controlada, e qualquer alteração, como ocorre em casos de isquemia ou inflamação, pode indicar sofrimento ou dano tecidual. Técnicas de imagem que detectam a distribuição de íons sódio são capazes de capturar essas alterações fisiológicas de forma não invasiva. Um exemplo disso é a ressonância magnética de sódio (Na-MRI), que permite mapear a concentração de sódio no tecido cardíaco em tempo real [3]. Na-MRI funciona de maneira semelhante à ressonância magnética convencional, mas em vez de detectar os sinais emitidos pelos prótons (átomos de hidrogênio) presentes na água, o sistema é ajustado para captar os núcleos de sódio-23. Como o sódio está presente em concentrações muito menores do que o hidrogênio, essa técnica exige equipamentos com alto campo magnético e bobinas específicas. Ainda assim, os avanços recentes têm tornado essa abordagem cada vez mais viável na prática clínica e na pesquisa. Com ela, é possível visualizar regiões do coração com disfunção celular, mesmo antes de ocorrerem alterações anatômicas visíveis — uma vantagem significativa em relação a métodos tradicionais [3]. Além da Na-MRI, outras técnicas não invasivas que utilizam contrastes alternativos, como fluoróforos ligados a processos metabólicos ou marcadores magnéticos sensíveis a variações de pH e fluxo sanguíneo, também estão sendo desenvolvidas. Essas abordagens visam destacar áreas específicas do tecido sem a necessidade de radiação ionizante, tornando os exames mais seguros e repetíveis ao longo do tempo. Em muitos casos, essas imagens podem ser combinadas com inteligência artificial e algoritmos de reconstrução para oferecer um detalhamento ainda maior das estruturas anatômicas e funcionais [4]. Essas técnicas também possibilitam a avaliação de condições cardíacas complexas com mais precisão, como a detecção precoce de miocardiopatias, a diferenciação entre tecido viável e tecido necrótico, e o monitoramento da eficácia de terapias farmacológicas ou intervencionistas. Além disso, são especialmente vantajosas em grupos vulneráveis, como gestantes, crianças e pacientes com doenças crônicas, que necessitam de monitoramento frequente sem os riscos associados à exposição acumulada à radiação [1]. Embora ainda estejam em processo de validação para uso rotineiro, as imagens obtidas com marcadores não invasivos e não radioativos representam um avanço importante na medicina moderna. Ao transformar processos fisiológicos em fontes de contraste naturais, essas tecnologias aliam precisão, segurança e conforto, abrindo caminho para um novo paradigma na cardiologia e em outras áreas da saúde. O futuro da imagem médica pode ser cada vez mais integrado à biologia molecular e menos dependente de métodos invasivos — e esses marcadores são um passo crucial nessa direção.   Texto elaborado por Eduardo Berna – Estágiario NUCLEORAD  

Por Bruna em 09/04/2025 às 16:06