NucleoBlog
Indústria, Medicina Nuclear e Transportes
Terapias com Radionuclídeos de última geração: O futuro da Medicina Nuclear?

  As terapias com radionuclídeos de última geração representam um avanço significativo no tratamento oncológico, oferecendo maior precisão na destruição de células tumorais e minimizando danos aos tecidos saudáveis. Essas terapias utilizam radiofármacos, que são compostos formados pela combinação de radionuclídeos emissores de partículas ionizantes com moléculas que direcionam a radiação diretamente às células cancerígenas, aumentando a eficácia do tratamento. Os radiofármacos são projetados para se ligar a alvos específicos nas células tumorais, permitindo uma abordagem terapêutica mais seletiva. A escolha do radionuclídeo é fundamental, considerando fatores como o tipo de radiação emitida, a meia-vida e o método de produção. Por exemplo, o Iodo-131 (I-131) é amplamente utilizado devido à sua capacidade de emitir partículas beta, que são eficazes na destruição de células malignas. A meia-vida do I-131 é de aproximadamente 8 dias, o que permite uma janela terapêutica adequada para o tratamento de diversas neoplasias. A produção de radionuclídeos como o I-131 é realizada em reatores nucleares, onde o Iodo-130 é irradiado com nêutrons para formar o I-131. A escolha do radionuclídeo adequado é crucial para garantir a eficácia e a segurança do tratamento, levando em consideração as características específicas de cada tipo de câncer e as propriedades físicas do radionuclídeo utilizado [1].   Uma das inovações mais significativas é o desenvolvimento de radiofármacos que se ligam a receptores específicos presentes nas células tumorais, permitindo uma entrega direcionada da radiação. Por exemplo, no câncer de próstata avançado, têm sido utilizados radiofármacos que se ligam ao antígeno de membrana específico da próstata (PSMA), proporcionando uma abordagem terapêutica mais eficaz e com menos efeitos colaterais em comparação com os tratamentos convencionais. O PSMA é uma proteína altamente expressa nas células do câncer de próstata, e os radiofármacos direcionados a esse antígeno utilizam moléculas que se ligam especificamente ao PSMA, conjugadas a radionuclídeos emissores de partículas beta ou alfa. Um exemplo é o Lutécio-177 (Lu-177), que emite partículas beta com uma meia-vida de aproximadamente 6,7 dias, permitindo uma distribuição adequada da dose terapêutica. O Lu-177 é produzido em reatores nucleares ou aceleradores de partículas, através da irradiação de alvos de Ytterbium-176. A utilização de radiofármacos direcionados ao PSMA tem mostrado resultados promissores, com redução significativa do volume tumoral e melhora na sobrevida dos pacientes [2].   Além disso, avanços na medicina nuclear têm permitido a utilização de radionuclídeos emissores de partículas alfa, que possuem alta energia e curto alcance, sendo ideais para o tratamento de micrometástases e células tumorais isoladas. Esses radionuclídeos, quando conjugados a moléculas que reconhecem alvos tumorais específicos, oferecem uma abordagem terapêutica altamente seletiva, reduzindo a toxicidade sistêmica e melhorando os resultados clínicos. Um exemplo amplamente utilizado é o Rádio-223 (Ra-223), indicado para o tratamento de metástases ósseas em pacientes com câncer de próstata resistente à castração. O Ra-223 emite partículas alfa que proporcionam alta deposição de energia nas células tumorais adjacentes ao tecido ósseo, promovendo a destruição das células malignas enquanto minimiza a exposição dos tecidos saudáveis. Sua meia-vida de 11,4 dias permite um controle eficaz do tratamento e reduz a necessidade de múltiplas administrações. O Ra-223 é produzido a partir do decaimento do Tório-227, que por sua vez é extraído de fontes naturais de Actínio-227 ou produzido sinteticamente em reatores nucleares [3].   Outro radionuclídeo promissor nessa categoria é o Actínio-225 (Ac-225), que também emite partículas alfa e tem se mostrado altamente eficaz no tratamento de tumores agressivos, como leucemias e câncer de próstata metastático. A meia-vida do Ac-225 é de 10 dias, o que permite uma liberação gradual da dose terapêutica, aumentando a eficácia do tratamento e reduzindo os efeitos adversos. Esse radionuclídeo pode ser produzido por meio da irradiação de alvos de Rádio-226 em aceleradores de partículas ou a partir do decaimento do Tório-229. Estudos clínicos demonstram que a terapia com Ac-225 conjugado a anticorpos monoclonais ou pequenas moléculas direcionadas melhora significativamente a resposta tumoral em pacientes que não respondem às terapias convencionais [4].   A radioimunoterapia é outra abordagem inovadora que combina anticorpos monoclonais com radionuclídeos, permitindo uma entrega altamente seletiva da radiação às células cancerígenas. Essa estratégia tem sido utilizada no tratamento de diversos tipos de câncer, incluindo linfomas, carcinomas e neoplasias hematológicas, proporcionando uma destruição precisa das células malignas enquanto preserva os tecidos saudáveis. Os anticorpos monoclonais são proteínas projetadas para reconhecer e se ligar a antígenos específicos na superfície das células tumorais. Quando conjugados a radionuclídeos emissores de partículas ionizantes, como o Iodo-131 (I-131) ou o Itrio-90 (Y-90), formam radiofármacos altamente eficazes. O Y-90, por exemplo, é um emissor de partículas beta com meia-vida de 2,7 dias e é produzido a partir da irradiação de alvos de Estrôncio-89 em reatores nucleares. Sua aplicação tem sido amplamente estudada no tratamento do linfoma não-Hodgkin, demonstrando capacidade de induzir remissão mesmo em pacientes refratários a outras terapias [5].   No contexto da medicina de precisão, as terapias com radionuclídeos de última geração representam um avanço significativo, permitindo tratamentos altamente personalizados e eficazes. No entanto, a incorporação dessas novas biotecnologias apresenta desafios, especialmente no que diz respeito ao acesso equitativo nos sistemas de saúde. É crucial que políticas públicas sejam desenvolvidas para garantir que esses avanços estejam disponíveis para todos os pacientes que possam se beneficiar, independentemente de sua localização geográfica ou condição socioeconômica. Além disso, é necessário investir na infraestrutura para a produção e distribuição dos radiofármacos, bem como na capacitação de profissionais especializados em medicina nuclear. O controle rigoroso da dosimetria, a segurança no manuseio e administração desses compostos, e o monitoramento contínuo dos efeitos colaterais são fatores determinantes para a eficácia e segurança dessas terapias [6].   A segurança no manuseio e administração de radiofármacos é um aspecto crítico na medicina nuclear, exigindo a implementação de protocolos rigorosos de radioproteção para proteger tanto os profissionais de saúde quanto os pacientes. Normas regulatórias, como as estabelecidas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), delineiam requisitos específicos para a operação de instalações que lidam com materiais radioativos, abrangendo desde a aquisição, armazenamento e manipulação até o descarte de resíduos radioativos [6]. Essas diretrizes são fundamentais para minimizar riscos de exposição ocupacional e garantir que os procedimentos terapêuticos sejam conduzidos de maneira segura e eficaz.   Além dos regulamentos nacionais, órgãos internacionais como a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) estabelecem recomendações para otimizar as práticas de radioproteção e dosimetria na medicina nuclear. Uma das principais diretrizes envolve a adoção do princípio ALARA (As Low As Reasonably Achievable), que orienta a redução da exposição à radiação ao menor nível possível, considerando as necessidades clínicas do tratamento [7]. Esse princípio se aplica tanto aos pacientes quanto aos profissionais, exigindo a implementação de barreiras de proteção, blindagens de seringas e frascos plumbíferos, além do uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) como luvas, aventais de chumbo e monitores pessoais de radiação.   Os protocolos de controle de qualidade também desempenham um papel essencial na segurança dos radiofármacos. Antes da administração ao paciente, os radiofármacos devem ser submetidos a testes rigorosos para garantir a estabilidade química, pureza radionuclídica e esterilidade da solução. Parâmetros como concentração de atividade, pH e integridade da ligação molecular com os vetores biológicos são cuidadosamente monitorados, reduzindo o risco de efeitos adversos [8]. Além disso, a calibração dos equipamentos utilizados na preparação e administração, como dosímetros e calibradores de dose, é obrigatória para garantir a precisão das doses administradas.   A capacitação contínua dos profissionais envolvidos no manuseio e administração de radiofármacos é outro fator crucial. Programas de formação especializados são oferecidos para médicos nucleares, físicos médicos, radiofarmacêuticos e técnicos em medicina nuclear, abrangendo desde aspectos teóricos sobre decaimento radioativo até treinamentos práticos sobre procedimentos seguros de manuseio e administração de radioisótopos [9]. Esses treinamentos incluem simulações de emergência para lidar com derramamentos de material radioativo e exposições acidentais, garantindo que a equipe esteja preparada para responder de maneira eficaz a qualquer incidente.   O descarte adequado de resíduos radioativos também é uma preocupação essencial na medicina nuclear. Dependendo da meia-vida do radionuclídeo, os resíduos podem ser armazenados temporariamente até atingirem níveis de radiação aceitáveis para descarte em lixo comum, ou podem necessitar de tratamentos específicos para eliminação segura. Radionuclídeos de meia-vida curta, como o Tecnécio-99m, podem ser armazenados por algumas horas ou dias antes do descarte, enquanto materiais com meia-vida mais longa exigem procedimentos diferenciados, incluindo confinamento em instalações apropriadas ou reprocessamento para reutilização em novas formulações radiofarmacêuticas [10].   A logística de transporte de radiofármacos também deve seguir regulamentos rigorosos para garantir a segurança durante o trajeto entre as unidades produtoras e os centros de medicina nuclear. O transporte deve ser realizado em embalagens certificadas, projetadas para evitar vazamentos e minimizar a exposição à radiação. Além disso, a documentação deve estar sempre em conformidade com as normas nacionais e internacionais, incluindo a correta rotulagem dos materiais radioativos e a indicação dos níveis de atividade transportados [11].   O monitoramento contínuo das doses recebidas pelos profissionais de saúde é uma exigência regulatória que visa prevenir exposições excessivas. A dosimetria individual é realizada por meio de dosímetros termoluminescentes (TLDs) ou dosímetros de filme, que registram a exposição acumulada à radiação ao longo do tempo. Caso os níveis de dose ultrapassem os limites estabelecidos pelos órgãos reguladores, medidas corretivas devem ser adotadas, incluindo reavaliação dos procedimentos e ajustes na proteção radiológica [12].   Por fim, a implementação de estratégias para reduzir a exposição dos acompanhantes e familiares dos pacientes tratados com radiofármacos é um aspecto frequentemente discutido na medicina nuclear. Orientações específicas são fornecidas para pacientes que recebem terapias com radionuclídeos de meia-vida longa, como o Iodo-131, a fim de evitar a contaminação secundária. Medidas como evitar contato físico prolongado, utilizar banheiros separados e lavar roupas e utensílios de forma isolada podem minimizar a exposição de terceiros à radiação residual presente no corpo do paciente [13].   Diante desses desafios e inovações, a segurança no uso de radiofármacos continuará sendo um tema de extrema importância para a medicina nuclear. O equilíbrio entre eficácia terapêutica e minimização da exposição à radiação depende de um compromisso contínuo com a pesquisa, regulamentação e treinamento dos profissionais envolvidos, garantindo que essas terapias de última geração sejam aplicadas com o máximo de segurança e benefício aos pacientes.   Texto elaborado pelo estagiário Eduardo Berna – Graduando em Física Médica pela UFCSPA – NUCELORAD.    Referências [1] REDE D’OR SÃO LUIZ. Radioisótopos no tratamento do câncer. 2024. Disponível em: https://www.rededorsaoluiz.com.br/onco/oncologiador/noticias/artigo/radioisotopos-no-tratamento-do-cancer. [2] SÁNCHEZ, L. A nova geração de fármacos radioativos ataca o câncer com precisão molecular. El País - Saúde e Bem-Estar, 2024. Disponível em: https://elpais.com/salud-y-bienestar/2024-09-11/la-nueva-generacion-de-farmacos-radiactivos-ataca-al-cancer-con-precision-molecular.html. [3] IAEA. Nuclear Medicine Safety Guidelines. International Atomic Energy Agency, 2024. Disponível em: https://www.iaea.org. [4] SOUZA, F. L. et al. Terapias Alfa-emissoras: um novo paradigma na oncologia nuclear. Cadernos de Saúde Pública, 2024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/zDRHSHfSh7mkcCKNHxSjr8C/ [5] CNEN. Normas para proteção radiológica em radiofarmácia. Comissão Nacional de Energia Nuclear, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/cnen/pt-br/acesso-rapido/normas/grupo-6/grupo6-nrm613.pdf. [6] CNEN. Normas para proteção radiológica em radiofarmácia. Comissão Nacional de Energia Nuclear, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/cnen/pt-br/acesso-rapido/normas/grupo-6/grupo6-nrm613.pdf. [7] IAEA. Radiation Protection in Nuclear Medicine: ALARA Principles. International Atomic Energy Agency, 2024. Disponível em: https://www.iaea.org. [8] SOUZA, F. L. et al. Terapias Alfa-emissoras: um novo paradigma na oncologia nuclear. Cadernos de Saúde Pública, 2024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/zDRHSHfSh7mkcCKNHxSjr8C/ [9] BVS MS. Garantia da Qualidade em Radiofarmácia. Biblioteca Virtual em Saúde, Ministério da Saúde, 2024. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/inca/garantia_da_qualidade_em_radiofarmacia_rafael.pdf. [10] GOV.BR. Diretrizes para o descarte de resíduos radioativos de serviços de saúde. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/residuos-radioativos.  [11] CNEN. Regulamentação do Transporte de Materiais Radioativos no Brasil. Comissão Nacional de Energia Nuclear, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/cnen/pt-br/transporte-radioativo. [12] ICRP. Radiation Dose Monitoring and Occupational Exposure Limits. International Commission on Radiological Protection, 2024. Disponível em: https://www.icrp.org. [13] INCA. Orientações para pacientes em tratamento com radiofármacos. Instituto Nacional do Câncer, 2024. Disponível em: https://www.inca.gov.br/publicacoes/informacoes-para-pacientes-radiofarmacos.

Por Bruna em 12/02/2025 às 09:02
Gestão em Saúde
A regulamentação de softwares médicos (saMD) no Diagnóstico por Imagem

  A regulamentação de softwares médicos (SaMD) no campo do Diagnóstico por Imagem é uma área estratégica e sensível da saúde, uma vez que esses softwares desempenham um papel crucial na análise, interpretação e suporte à decisão clínica com base em exames de imagem, como raios-X, tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM), ultrassonografia (US) e medicina nuclear. Tendo como objetivo garantir que essas tecnologias sejam seguras, eficazes e confiáveis, dada sua importância para o diagnóstico de doenças e a tomada de decisões clínicas. No Brasil, os softwares médicos (saMD) seguem as diretrizes da RDC 657/2022 da ANVISA, alinhada às normas internacionais para dispositivos médicos, como a ISO 13485 e a IEC 62304.   O Papel dos SaMDs no Diagnóstico por Imagem Os SaMDs em Diagnóstico por Imagem desempenham diversas funções, como: Reconstrução e Processamento de Imagens: Softwares que otimizam a qualidade das imagens ou realizam reconstruções tridimensionais para melhor visualização de estruturas anatômicas. Detecção Automatizada de Patologias: Ferramentas baseadas em inteligência artificial (IA) que detectam padrões, como nódulos pulmonares, fraturas ósseas, ou calcificações em mamografias. Quantificação e Medição: Softwares que realizam medições precisas, como volumes de tumores, densidade óssea ou perfusão tecidual. Suporte à Decisão Clínica: Integração de dados para fornecer sugestões diagnósticas ou auxiliar no planejamento de intervenções. Fusão de Imagens: Combinação de diferentes modalidades (ex.: PET-CT ou RM-CT) para uma análise mais detalhada.   Requisitos Regulatórios para SaMDs no Diagnóstico por Imagem Desenvolvimento Seguro: Aplicação de boas práticas conforme a ISO 13485 e IEC 62304, garantindo controle do ciclo de vida, desde o design até a validação. Gestão de Riscos: Avaliação de riscos deve considerar falhas, erros de interpretação ou uso inadequado, especialmente em diagnósticos críticos. Validação Clínica: O software deve ser submetido a estudos clínicos para comprovar eficácia e precisão no auxílio ao diagnóstico por imagem. Interoperabilidade e Padrões: Compatibilidade com sistemas PACS (Picture Archiving and Communication System) e uso de formatos padrão como DICOM (Digital Imaging and Communications in Medicine). Cibersegurança: Proteção de dados médicos e prevenção contra acessos não autorizados, considerando a LGPD e normas específicas de segurança.   Benefícios dos SaMDs no Diagnóstico por Imagem Melhoria da Precisão Diagnóstica: Reduzem erros humanos e ajudam a identificar patologias em estágios iniciais. Eficiência Operacional: Automatizam processos repetitivos, liberando tempo para os profissionais de saúde. Integração com Tecnologias Avançadas: Uso de IA e aprendizado de máquina para interpretar grandes volumes de dados complexos.   Desafios na Regulamentação Complexidade dos Algoritmos de IA: Regulamentar softwares que utilizam aprendizado contínuo (machine learning) é desafiador, pois suas funções podem evoluir. Custo e Tempo de Desenvolvimento: O cumprimento das exigências regulatórias pode ser demorado e caro, especialmente para startups. Interoperabilidade: Garantir compatibilidade com equipamentos e sistemas hospitalares diversificados é tecnicamente complexo.      A regulamentação de softwares médicos no Diagnóstico por Imagem, conforme a RDC 657/2022, é essencial para promover a segurança e eficácia dessas tecnologias no Brasil. Apesar dos desafios técnicos e regulatórios, esses softwares desempenham um papel crucial na medicina moderna, proporcionando diagnósticos mais precisos, rápidos e confiáveis. A ANVISA, ao alinhar-se com padrões internacionais, contribui para a inovação responsável e para a confiança no uso dessas ferramentas avançadas.   Texto elaborado por Bruna Vitola Lovato – Física Médica NUCLEORAD     Referências: [1] ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 657, de 24 de março de 2022.

Por Bruna em 06/02/2025 às 17:09
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Ultrassom Doppler: Transformando o Diagnóstico Vascular

O ultrassom Doppler é uma ferramenta diagnóstica que transformou a medicina vascular permitindo a análise detalhada do fluxo sanguíneo em diversas regiões do corpo de forma não invasiva. Esta tecnologia utiliza o efeito Doppler, descrito pela primeira vez pelo físico Christian Doppler em 1842 para detectar mudanças na frequência das ondas sonoras refletidas pelas células sanguíneas em movimento. Com isso, é possível obter informações acerca  da direção e da velocidade do fluxo sanguíneo. Nos últimos anos, o ultrassom Doppler evoluiu com a introdução de modalidades como o Doppler colorido, Doppler pulsado e Doppler de onda contínua. Estas técnicas oferecem maior precisão e resolução, permitindo a visualização do fluxo sanguíneo e a detecção de alterações hemodinâmicas. Uma das aplicações mais importantes do ultrassom Doppler é no diagnóstico de doenças arteriais e venosas. Ele é amplamente utilizado para avaliar trombose venosa profunda (TVP), identificando coágulos sanguíneos nas veias profundas dos membros inferiores; doença arterial periférica (DAP), medindo a severidade da obstrução arterial causada por aterosclerose; aneurismas, permitindo a visualização e medição precisa de dilatações arteriais; e insuficiência venosa crônica, avaliando o refluxo venoso em pacientes com varizes ou úlceras venosas. O ultrassom Doppler oferece diversos benefícios. Ele é uma técnica não invasiva, que não requer a inserção de cateteres ou a administração de meios de contraste, reduzindo os riscos ao paciente. Também, é um exame de baixo custo, especialmente quando comparado a outros métodos, como a angiografia por ressonância magnética, além de ser mais acessível. A portabilidade dos equipamentos modernos permite seu uso em ambientes clínicos e à beira do leito. Outro ponto positivo é a possibilidade de fornecer diagnósticos em tempo real, permitindo a avaliação imediata do fluxo sanguíneo e da funcionalidade vascular. Embora extremamente útil, o ultrassom Doppler apresenta limitações, como a dependência da experiência do operador e dificuldades em avaliar vasos profundos ou em pacientes obesos. Além disso, a interpretação dos resultados pode ser influenciada por condições específicas, como oclusões severas que alteram o sinal Doppler. Com os avanços tecnológicos, o ultrassom Doppler tem integrado soluções baseadas em inteligência artificial (IA), que auxiliam na detecção automática de anormalidades e aprimoram a precisão diagnóstica. O controle de qualidade do ultrassom Doppler é realizado para garantir a segurança do paciente e a precisão dos diagnósticos. No Brasil, a Instrução Normativa - IN N° 96, de 27 de maio de 2021, estabelece os requisitos para o controle de qualidade em ultrassonografia. Essa normativa é importante pois assegura que os resultados obtidos sejam consistentes e confiáveis, reduzindo o risco de erros diagnósticos. Portanto, o ultrassom Doppler representa uma revolução no diagnóstico e monitoramento de condições vasculares. Sua capacidade de fornecer informações em tempo real, de forma segura e acessível, consolidou seu papel como uma importante ferramenta na medicina moderna.   Texto elaborado pelo estagiário Rafael Borges de Carvalho – graduando em física médica pela UFCSPA – NUCLEORAD.   Referências Carvalho, C. F., Chammas, M. C., & Cerri, G. G. (2008). "Princípios físicos do Doppler em ultra-sonografia." Ciência Rural, Santa Maria, 38(3), 872-879. ISSN 0103-8478. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. (2021). Instrução Normativa - IN N° 96, de 27 de maio de 2021. Brasília, Brasil. Zaiem F, Almasri J, Tello M, Prokop LJ, Chaikof EL, Murad MH. A systematic review of surveillance after endovascular aortic repair. J Vasc Surg. 2018;67(1):320-331.e37. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2017.04.058 PMid:28662928. Capaverde, A. S., Pimentel, J., Froner, A. P. P., & Silva, A. M. M. (2014). Procedures for quality control in Doppler ultrasound equipment. Revista Brasileira de Física Médica, 8(3), 2-5. Hospital São Lucas, PUCRS, Porto Alegre, Brasil; Faculdade de Física, PUCRS, Porto Alegre, Brasil. Engelhorn, A. L. D. V., Lima, L. de B., Werka, M. J. S., Engelhorn, A. V. V., Bombardelli, D. A. R., Silva, L. D. O. da, et al. (2021). Identificação pela ultrassonografia vascular da compressão da veia ilíaca comum esquerda em mulheres assintomáticas: ortostatismo pode influenciar o diagnóstico? Jornal Vascular Brasileiro, 20, e20200188. Available from: https://doi.org/10.1590/1677-5449.200188.

Por Bruna em 30/01/2025 às 10:15
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
O Controle de Qualidade em Mamografia

O controle de qualidade em mamografia é essencial para garantir que os exames mamográficos sejam realizados com alta qualidade, precisão e segurança, tanto para o paciente quanto para os profissionais de saúde. A Física Médica desempenha um papel fundamental neste processo, assegurando que os equipamentos de mamografia operem de acordo com os padrões técnicos e de segurança estabelecidos, minimizando a dose de radiação enquanto maximiza a qualidade da imagem para um diagnóstico confiável. A seguir, são detalhados os alguns dos principais aspectos do controle de qualidade em mamografia:   Verificação da Dose de Radiação: A dose de radiação administrada durante o exame mamográfico deve ser controlada para minimizar a exposição do paciente enquanto garante que a imagem seja suficientemente clara para o diagnóstico. A mamografia, sendo um exame de baixa dose, requer cuidados especiais na regulação da exposição à radiação. Métodos de controle: - Dose média glandular:  é a principal medida utilizada para quantificar a dose de radiação em mamografia. A dose deve ser monitorada para garantir que não ultrapasse os limites de segurança, como os estabelecidos pela instrução normativa IN N° 92.  - Verificação da relação dose/qualidade de imagem: A dose de radiação e a qualidade da imagem devem ser balanceadas para garantir que a imagem seja adequada para diagnóstico sem expor o paciente a doses desnecessárias.   Verificação da Qualidade da Imagem A qualidade da imagem é crucial para garantir que o diagnóstico seja preciso. A mamografia é um exame altamente técnico, e a qualidade das imagens depende de vários fatores, como a resolução, o contraste e a presença de artefatos.  Parâmetros de qualidade de imagem: - Resolução espacial: A capacidade do sistema de distinguir pequenos detalhes, como microcalcificações e tumores, é fundamental para um diagnóstico precoce. A resolução espacial deve ser verificada para garantir que seja suficiente para visualizar essas pequenas estruturas. - Contraste de imagem: A capacidade de diferenciar diferentes densidades de tecido, como tecido glandular e gordura, deve ser avaliada para garantir que as imagens permitam uma avaliação clara e precisa. - Ruído de imagem: O ruído deve ser minimizado, pois pode comprometer a clareza das imagens. O controle da exposição e da filtragem do feixe de radiação pode ajudar a reduzir o ruído. - Uniformidade da imagem: Verificação de que a distribuição do brilho na imagem seja homogênea, sem áreas excessivamente claras ou escuras.   Verificação da Compressão da Mama A compressão da mama é um fator essencial na mamografia, pois ela ajuda a reduzir a dose de radiação necessária e melhora a qualidade da imagem. Uma compressão adequada também contribui para a clareza da imagem ao reduzir a espessura do tecido a ser radiografado. Métodos de controle: - Verificação da força de compressão: A força aplicada pela compressão deve ser monitorada e ajustada para garantir que não cause desconforto excessivo ao paciente e que a compressão seja eficiente para melhorar a qualidade da imagem. - Uniformidade da compressão: A compressão deve ser uniforme em toda a mama para garantir imagens consistentes e de boa qualidade.   Controle de Alinhamento do Feixe de Radiação O alinhamento do feixe de radiação é crucial para garantir que a área de interesse (a mama) seja corretamente exposta ao feixe de raios X, sem áreas fora de foco ou sem radiação. Métodos de controle: - Verificação da colimação: A colimação do feixe deve ser verificada para garantir que a área irradiada seja a mínima necessária para a imagem desejada, minimizando a exposição a tecidos saudáveis ao redor da mama. - Alinhamento do feixe com o detector: O feixe de radiação deve estar corretamente alinhado com o detector para garantir uma imagem nítida e bem definida.   Verificação de Artefatos Os artefatos podem comprometer a qualidade das imagens mamográficas e dificultar o diagnóstico. A presença de artefatos deve ser minimizada e verificada durante o controle de qualidade. Métodos de controle: - Artefatos de movimento: O movimento do paciente durante a aquisição da imagem pode causar borrões. Testes de qualidade devem verificar a ausência de artefatos causados por movimentos involuntários. - Artefatos de equipamento: Como falhas no detector ou problemas no tubo de raios X podem causar artefatos. A inspeção regular de todos os componentes do equipamento é fundamental. Artefatos metálicos: Próteses ou implantes metálicos podem causar distorções na imagem. A física médica deve verificar se o sistema está configurado para lidar com esses casos.   O controle de qualidade em mamografia é crucial para garantir a segurança, precisão e eficácia do exame. A Física Médica desempenha um papel fundamental ao realizar o monitorando a dose de radiação, a qualidade da imagem e garantindo que os procedimentos sejam realizados com o mínimo de risco para os pacientes.   Texto elaborado por Tiago Langone – Físico Médico NUCLEORAD   Referências: [1] Resolução da Diretoria Colegiada nº 611 – RDC 611; [2] Instrução Normativa  IN N° 92 – Mamografia

Por Bruna em 23/01/2025 às 08:49
A Revolução da Inteligência Artificial na Detecção Precoce de Câncer de Mama e Próstata com Ecografia

  A inteligência artificial (IA) tem desempenhado um papel cada vez mais relevante na área da saúde, especialmente em exames de imagem. No campo da ultrassonografia (US), a IA está revolucionando a detecção precoce de cânceres, como os de mama e próstata, ao melhorar a precisão diagnóstica, a eficiência dos processos e a experiência do paciente. Essa tecnologia inovadora tem sido uma aliada poderosa para superar limitações históricas dos exames ultrassonográficos, proporcionando avanços significativos na prática clínica e na física médica.   A ultrassonografia é uma ferramenta essencial na avaliação de lesões mamárias e prostáticas devido à sua ampla disponibilidade, baixo custo e ausência de radiação ionizante. Contudo, a análise das imagens é frequentemente dependente da experiência do operador e suscetível a interpretações subjetivas, o que pode resultar em diagnósticos inconsistentes. A incorporação da IA em equipamentos de ultrassom tem mitigado esses desafios ao utilizar algoritmos avançados que processam e interpretam imagens com alta precisão.   No câncer de mama, a IA aplicada à ecografia tem se destacado em várias frentes. Uma das principais contribuições é a classificação automática de lesões com base no sistema BI-RADS (Breast Imaging Reporting and Data System). Os algoritmos analisam características como margens, ecogenicidade e forma das lesões, auxiliando os radiologistas a identificar padrões suspeitos com maior acurácia. Além disso, a IA tem sido eficaz na redução de falsos positivos e negativos, ajudando a minimizar biópsias desnecessárias e aumentando a confiança diagnóstica. Outra aplicação importante é a fusão de dados de ultrassom com outras modalidades de imagem, como mamografias e tomossíntese. Essa abordagem multimodal é especialmente útil para pacientes com mamas densas, onde as limitações do ultrassom convencional podem ser superadas.   No câncer de próstata, a IA também tem transformado os exames ultrassonográficos. A avaliação da próstata por ultrassom com Doppler ou elastografia, por exemplo, é significativamente aprimorada com o uso de IA, que detecta padrões relacionados à vascularização ou rigidez tecidual de forma mais precisa. Além disso, a tecnologia tem facilitado biópsias guiadas por fusão de imagens, combinando ultrassom com ressonância magnética multiparamétrica (mpMRI). Esses avanços possibilitam uma detecção mais precisa de lesões clinicamente significativas, reduzindo o risco de subdiagnóstico e otimizando o planejamento terapêutico.   Grandes fabricantes de equipamentos médicos já incorporaram a IA em seus sistemas de ultrassonografia. Exemplos incluem o LOGIQ E10 da GE Healthcare, o ACUSON Sequoia da Siemens Healthineers e o EPIQ Elite da Philips. Esses dispositivos utilizam algoritmos avançados para melhorar a qualidade das imagens, identificar áreas suspeitas automaticamente e até mesmo fornecer classificações baseadas em sistemas de reporte, como BI-RADS e PI-RADS. Empresas especializadas em software de IA, como a Lunit, também têm desenvolvido ferramentas integradas que potencializam o uso de imagens ultrassonográficas, especialmente em conjunto com dados clínicos.   Embora os benefícios da IA na ultrassonografia sejam amplamente reconhecidos, existem desafios que precisam ser considerados. A dependência de grandes volumes de dados de treinamento de alta qualidade, a necessidade de validação clínica rigorosa e a integração eficiente nos fluxos de trabalho são alguns dos principais pontos de atenção. Além disso, é fundamental lembrar que a IA deve ser usada como uma ferramenta de suporte e não como um substituto para o julgamento clínico, garantindo que a tomada de decisão permaneça nas mãos dos especialistas.   Em suma, a aplicação da IA em equipamentos de ecografia representa um marco no diagnóstico por imagem, com impactos positivos tanto na detecção precoce de câncer de mama quanto de próstata. Ao proporcionar maior precisão, agilidade e personalização nos cuidados, essa tecnologia não apenas beneficia os pacientes, mas também redefine os padrões de prática clínica e pesquisa na área da física médica. O futuro aponta para uma integração ainda maior entre IA e ultrassonografia, com avanços contínuos que prometem transformar a forma como diagnosticamos e tratamos essas doenças.   Texto elaborado por Letícia Fröhlich – Física Médica NUCLEORAD   Referências: [1] Santos MAS, Almeida MCC, Silva LDO, et al. Aplicação da inteligência artificial no diagnóstico e monitoramento do câncer de mama. Brazilian Journal of Health Review. 2023;6(3):1234-1245. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br. Acessado em 8 de janeiro de 2025. [2] Souza FJ, Ribeiro AAC, Martins LMM. Rede neural artificial aplicada ao diagnóstico de câncer de próstata. Jornal Brasileiro de Informática em Saúde. 2022;15(1):56-62. Disponível em: https://jhi.sbis.org.br. Acessado em 8 de janeiro de 2025.

Por Bruna em 15/01/2025 às 16:35
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Tecnologia de Impressão 3D na Medicina: Aplicações e Impactos no Radiodiagnóstico Moderno

  A tecnologia de impressão 3D tem revolucionado a medicina, permitindo a criação de modelos anatômicos precisos que auxiliam no planejamento cirúrgico e na educação médica. Além disso, a fabricação de phantoms personalizados para testes de controle de qualidade em radiodiagnóstico tem aprimorado a precisão dos diagnósticos por imagem. A integração dessa tecnologia com os princípios da Indústria 4.0 tem potencializado sua aplicação na área da saúde, promovendo avanços significativos na personalização de tratamentos e na eficiência dos procedimentos médicos [1].   Estudos recentes demonstram que a impressão 3D permite a produção de phantoms com propriedades radiológicas semelhantes às dos tecidos humanos, o que é essencial para a calibração e validação de equipamentos de imagem médica. Por exemplo, a fabricação de phantoms tumorais realistas tem sido utilizada para validar algoritmos de processamento de imagem, contribuindo para o desenvolvimento de técnicas mais precisas de detecção e diagnóstico [1]. Além disso, a utilização de materiais como o silicone na impressão 3D tem possibilitado a criação de phantoms que mimetizam as propriedades dos tecidos moles em tomografias computadorizadas, oferecendo uma ferramenta valiosa para o treinamento de procedimentos intervencionistas e para a pesquisa em novas modalidades de imagem [2].   A incorporação da impressão 3D na Indústria 4.0 tem facilitado a produção de dispositivos médicos personalizados, como próteses e órteses, adaptados às necessidades específicas de cada paciente. Essa abordagem combina alta tecnologia e sustentabilidade, otimizando os processos de fabricação e reduzindo custos. Além disso, tem permitido uma personalização sem precedentes nos tratamentos, contribuindo para melhores resultados clínicos e maior qualidade de vida dos pacientes [3].   No contexto do radiodiagnóstico, a impressão 3D tem sido fundamental para a produção de phantoms utilizados em testes de controle de qualidade, garantindo a precisão e a confiabilidade dos exames de imagem. A capacidade de reproduzir com exatidão as características anatômicas e densitométricas dos tecidos humanos permite uma avaliação mais rigorosa dos equipamentos e procedimentos radiológicos [4].   Em resumo, a convergência da impressão 3D com os conceitos da Indústria 4.0 tem impulsionado inovações significativas na medicina, especialmente no radiodiagnóstico. A produção de phantoms personalizados e dispositivos médicos sob medida tem aprimorado a precisão dos diagnósticos e a eficácia dos tratamentos, refletindo um futuro promissor para a integração dessas tecnologias na área da saúde [4].   Texto elaborado pelo estagiário Eduardo Berna – graduando em Física Médica pela UFCSPA – NUCLEORAD   Referências: [1] Recent Advances in 3D Printing Technology for Tumor Phantom Creation in Medical Imaging. arXiv. Disponível em: arxiv.org [2] Silicone-Based 3D Printed Models for CT Imaging in Radiological Training. arXiv. Disponível em: arxiv.org [3] Aplicações da Impressão 3D na Área da Saúde: Uma Revisão de Escopo. Revista de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Disponível em: revistaft.com.br [4] Phantoms Impressos em 3D: Novas Fronteiras para Controle de Qualidade em Radiodiagnóstico. Radiologia Brasileira. Disponível em: rb.org.br

Por Bruna em 08/01/2025 às 12:51