A importância da Proteção Radiológica no tratamento com I-131 em Medicina Nuclear
O Iodo-131 foi o primeiro radioisótopo de importância na Medicina Nuclear. Ele é usado em terapia, sendo preconizador nesse contexto devido a sua composição química, que também possibilitou seu uso em diagnóstico. A administração da dose terapêutica de Iodo-131 é realizada de forma ambulatorial ou em isolamento, conforme a patologia apresentada pelo paciente. O uso de materiais radioativos oferece enormes benefícios no diagnóstico e tratamento de diversas doenças, mas também envolve riscos associados à exposição à radiação ionizante.
A proteção radiológica no tratamento com I-131 e outros radiofármacos em Medicina Nuclear é fundamental para garantir a segurança dos pacientes, profissionais de saúde e do público em geral. A física médica, com sua expertise em radioproteção, desempenha um papel crucial em todas as fases do processo. A seguir estão alguns aspectos detalhados sobre a importância da proteção radiológica nesse contexto:
Princípios da Proteção Radiológica
A proteção radiológica segue três princípios fundamentais:
Justificação: O benefício do uso de radiação ionizante deve superar os riscos. Em Medicina Nuclear, isso significa que o uso de radiofármacos só é justificado quando não há alternativas terapêuticas ou diagnósticas mais seguras que ofereçam os mesmos benefícios.
Otimização: Também conhecido como ALARA (As Low As Reasonably Achievable), esse princípio determina que a dose de radiação deve ser a mínima possível para atingir os objetivos clínicos. O físico médico atua para garantir que a dose administrada ao paciente seja cuidadosamente calculada e ajustada para minimizar a exposição desnecessária.
Limitação de Dose: Existem limites regulamentares para a exposição ocupacional e pública à radiação. Os físicos médicos e especialistas em proteção radiológica asseguram que essas doses estejam dentro dos limites aceitáveis, com monitoramento contínuo.
Proteção dos Pacientes
A administração de radiofármacos, como o I-131, implica a introdução de material radioativo no corpo do paciente, o que requer um planejamento cuidadoso para proteger órgãos e tecidos saudáveis da exposição desnecessária.
Dosimetria Precisa: O cálculo adequado da dose a ser administrada é essencial para garantir que o tecido-alvo (como a tireoide ou tumores) receba a dose terapêutica, enquanto os tecidos adjacentes ou saudáveis são poupados. O físico médico realiza esses cálculos levando em conta parâmetros biológicos e anatômicos do paciente.
Minimização da Exposição: Mesmo que o paciente precise ser exposto a níveis terapêuticos de radiação, existem estratégias para minimizar essa exposição. Por exemplo, a administração de uma dose fracionada ou o uso de bloqueadores de radiação em alguns órgãos pode reduzir a absorção de radiação indesejada.
Orientação Pós-Tratamento: Pacientes que recebem tratamentos com radiofármacos de meia-vida longa, como o I-131, podem continuar emitindo radiação por dias após a administração. O físico médico orienta o paciente sobre como minimizar a exposição a familiares e pessoas próximas, incluindo restrições temporárias ao contato físico próximo, especialmente com crianças e gestantes.
Proteção dos Profissionais de Saúde
Os profissionais que manuseiam radiofármacos ou atendem pacientes tratados com radiação precisam adotar medidas rigorosas de proteção radiológica para evitar a exposição ocupacional.
Monitoração Individual: Os trabalhadores são monitorados continuamente para garantir que suas doses de radiação permaneçam dentro dos limites estabelecidos. Dispositivos de monitoração pessoal, como dosímetros, são utilizados para medir a exposição acumulada ao longo do tempo.
Barreiras de Proteção: No ambiente de Medicina Nuclear, são usadas barreiras físicas, como aventais de chumbo e luvas especiais, para reduzir a exposição direta à radiação. Áreas designadas de trabalho com material radioativo também são equipadas com blindagens adequadas.
Treinamento em Radioproteção: Profissionais que lidam com materiais radioativos recebem treinamento regular em técnicas de manuseio seguro, uso de equipamentos de proteção e medidas de emergência em caso de exposição acidental ou contaminação.
Proteção do Público
A radiação emitida por pacientes tratados com I-131 ou outros radiofármacos pode, em alguns casos, representar um risco para o público. Assim, medidas específicas são adotadas para limitar a exposição das pessoas ao redor.
Isolamento Temporário de Pacientes: Pacientes que recebem altas doses de I-131 podem ser colocados em isolamento em áreas controladas até que os níveis de radiação em seus corpos sejam suficientemente baixos para não representar um risco para outras pessoas. Isso é especialmente comum em hospitais com departamentos de Medicina Nuclear que realizam tratamentos de altas doses.
Monitoramento Ambiental: Além de monitorar os pacientes e os profissionais de saúde, o ambiente onde são manipulados radiofármacos também é cuidadosamente monitorado para evitar contaminações. Equipamentos de detecção de radiação garantem que as salas de tratamento e áreas de descarte de resíduos radioativos estejam seguras.
Gestão de Resíduos Radioativos
O descarte seguro de resíduos contendo radioisótopos é uma parte importante da proteção radiológica. O físico médico, junto com especialistas em radioproteção, garante que resíduos líquidos, sólidos e gasosos resultantes dos tratamentos com radiofármacos sejam tratados e descartados de acordo com normas ambientais rigorosas.
Armazenamento de Decaimento: Em muitos casos, resíduos radioativos são armazenados por um período de tempo até que a atividade da radiação decaia para níveis seguros, antes de serem descartados.
Normas de Descarte: Existem diretrizes específicas para o descarte de diferentes tipos de resíduos radioativos, e o cumprimento dessas diretrizes é crucial para evitar a contaminação ambiental e a exposição involuntária do público.
Emergências Radiológicas
Em casos de acidentes ou falhas no manuseio de radiofármacos, a proteção radiológica também envolve a implementação de planos de resposta a emergências. Esses planos incluem procedimentos para evacuação, contenção e descontaminação, garantindo que qualquer incidente seja gerido de forma eficaz para minimizar o impacto.
A proteção radiológica em Medicina Nuclear é essencial para maximizar os benefícios terapêuticos e diagnósticos dos radiofármacos, ao mesmo tempo em que protege pacientes, profissionais e o público de riscos desnecessários. A física médica, com seu conhecimento dos princípios de radioproteção, desempenha um papel vital na implementação de medidas de segurança que garantem o sucesso dos tratamentos, sempre mantendo os riscos sob controle.
Bruna Vitola Lovato
Especialista em Radiodiagnóstico – UCS
Referências:
DE OLIVEIRA, A. S.; MULLER, A. dos S.; SIMÃO, E. M.; RODRIGUES JUNIOR, L. F.; SCHWARZ, A. P. Dosimetria de quarto terapêutico para tratamento com Iodo 131. Disciplinarum Scientia | Naturais e Tecnológicas, Santa Maria (RS, Brasil), v. 22, n. 2, p. 95–103, 2021. DOI: 10.37779/nt.v22i2.4063. Disponível em: https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumNT/article/view/4063. Acesso em: 24 out. 2024.
Por tiago em 14/11/2024 às 16:46