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Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Controle de Qualidade em Radiografia Intraoral: Atuação do Físico Médico

A radiografia intraoral é amplamente utilizada na odontologia, sendo essencial para o diagnóstico de diversas condições bucais. Entretanto, o uso de radiação ionizante impõe a necessidade de controle rigoroso da qualidade dos equipamentos e da segurança radiológica. Este artigo aborda a atuação do físico médico na implementação e execução de programas de controle de qualidade em equipamentos de raio X intraoral. São descritos os principais testes realizados, os parâmetros avaliados, e a importância da documentação técnica para fins regulatórios A radiografia intraoral  Ferramenta indispensável na odontologia moderna, permiti o diagnóstico preciso de cáries, lesões ósseas, alterações periodontais e outras condições orais. Entretanto, a emissão de radiação ionizante, ainda que em baixas doses, representa um risco potencial à saúde humana se não for adequadamente controlada. Neste contexto, o físico médico é o profissional legalmente habilitado para atuar na avaliação da qualidade e segurança dos equipamentos radiológicos. Segundo a legislação brasileira, como a RDC 611 de 09 de março de 2022, o controle de qualidade é obrigatório em serviços que utilizam radiação ionizante, incluindo consultórios odontológicos. Métodos O controle de qualidade dos equipamentos de raio X intraoral consiste na realização periódica de testes específicos, utilizando instrumentos calibrados e protocolos padronizados. Os principais testes incluem:     Avaliação da Tensão (kVp) O controle do potencial de pico (kVp) assegura que o valor nominal esteja de acordo com o real, impactando diretamente na penetração da radiação e no contraste da imagem. Verificação do Tempo de Exposição Testa a precisão e exatidão dos tempos selecionados no console do equipamento, fator crucial para evitar sub ou superexposição do sensor/receptor de imagem. Reprodutibilidade da Radiação A constância na emissão de dose em exposições repetidas é verificada para garantir imagens consistentes em condições idênticas. Alinhamento do Feixe e Colimação Verifica-se a coincidência entre o centro do feixe e o receptor, bem como a presença e eficácia da colimação retangular, que reduz significativamente a dose ao paciente. Avaliação da Filtração Confirma se o sistema possui filtração mínima adequada, eliminando radiações de baixa energia que não contribuem para a imagem, mas aumentam a dose absorvida. Teste de Qualidade da Imagem Utiliza-se fantomas específicos para aferir a resolução espacial, contraste e presença de artefatos que possam comprometer o diagnóstico.   Resultados A implementação adequada de um programa de controle de qualidade permite: Redução da dose ao paciente, ao evitar repetições de exames e otimizar os parâmetros de exposição. Aumento da vida útil dos equipamentos, pela detecção precoce de falhas técnicas. Padronização da qualidade da imagem, assegurando confiança diagnóstica. Conformidade com normas regulatórias, o que previne sanções legais e assegura boas práticas.   Estudos mostram que muitos consultórios odontológicos operam com equipamentos sem manutenção regular, o que acarreta riscos à saúde pública. A presença do físico médico garante não apenas o cumprimento da legislação vigente, mas também a difusão de uma cultura de segurança e qualidade nos serviços odontológicos. O físico médico desempenha um papel essencial no controle de qualidade de equipamentos de raio X intraoral, promovendo a segurança dos pacientes e a eficácia dos diagnósticos odontológicos. A realização periódica de testes técnicos, acompanhada de relatórios detalhados e recomendações corretivas, contribui significativamente para a melhoria contínua dos serviços que utilizam radiação ionizante na odontologia. Texto elaborado por Tiago Langone – Físico Médico NUCLEORAD Referências ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 611, de 09 de março de 2022. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2022. CNEN. Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica - CNEN NN 3.01. Comissão Nacional de Energia Nuclear, 2014. IAEA. Radiation Protection in Dental Radiology. International Atomic Energy Agency, 2018.  

Por Bruna em 29/04/2025 às 11:17
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Radiação e Irradiação: Entendendo os Conceitos Fundamentais na Física Médica

A terminologia empregada na física médica é, por vezes, fonte de confusão, especialmente no que se refere aos conceitos de radiação e irradiação. Embora intimamente relacionados, esses termos possuem definições distintas e aplicações específicas dentro dos contextos clínico, industrial e científico. A radiação pode ser definida como a propagação de energia por meio de ondas eletromagnéticas ou partículas subatômicas. Do ponto de vista físico, trata-se de uma manifestação de energia que se propaga no espaço ou através de um meio material. Essa radiação pode ser classificada, de forma geral, em dois tipos: ionizante e não ionizante. A radiação ionizante possui energia suficiente para ionizar átomos, isto é, remover elétrons de seus orbitais. Exemplos típicos incluem a radiação alfa (α), beta (β), partículas pesadas, raios X e radiação gama (γ). Por outro lado, a radiação não ionizante não promove ionização direta, mas pode causar excitação molecular. Nesse grupo estão a luz visível, o infravermelho, as micro-ondas e as ondas de rádio. No âmbito da física médica, o interesse principal recai sobre a radiação ionizante, uma vez que ela é amplamente empregada em técnicas diagnósticas, como a radiografia, tomografia computadorizada e medicina nuclear, bem como em procedimentos terapêuticos, como a radioterapia externa e a braquiterapia. Já o termo irradiação refere-se ao ato de expor um material, organismo ou sistema físico à ação de uma fonte emissora de radiação. Trata-se de um processo deliberado de interação da radiação com a matéria. A irradiação pode ocorrer com diferentes finalidades. No contexto clínico, por exemplo, é utilizada em tratamentos oncológicos por meio da radioterapia, que emprega feixes fotônicos (raios X ou gama) ou partículas (como elétrons, prótons e íons pesados) para o combate de neoplasias malignas. No setor industrial e hospitalar, a irradiação é empregada na esterilização de materiais médico-hospitalares, utilizando-se principalmente radiação gama. Também é aplicada na conservação de alimentos, contribuindo para a eliminação de microrganismos patogênicos e para o aumento da vida útil dos produtos. É fundamental destacar que a irradiação, em condições normais de uso, não torna o material exposto radioativo. A exceção ocorre em situações específicas de exposição à radiação de nêutrons com captura nuclear significativa — um fenômeno raro nas aplicações médicas convencionais. Portanto, embora a radiação seja o fenômeno físico subjacente, a irradiação diz respeito ao processo de exposição a essa radiação. Conceitualmente, um termo não substitui o outro, embora ambos estejam ligados no contexto aplicado. A radiação representa a propagação de energia por ondas eletromagnéticas ou partículas, enquanto a irradiação corresponde ao ato de submeter algo à ação dessa radiação. Um exemplo prático pode ser observado na radioterapia externa (teleterapia), onde um acelerador linear gera radiação ionizante, na forma de raios X de alta energia. Ao direcionar esse feixe para a região tumoral, o paciente está sendo irradiado, ou seja, exposto à ação da radiação de forma controlada e planejada, com o objetivo de promover um efeito biológico terapêutico — como a destruição seletiva das células tumorais. Diferenciar os conceitos de radiação e irradiação é essencial para o entendimento correto dos processos físicos e biológicos envolvidos nas práticas da física médica. O uso seguro e eficaz das tecnologias que envolvem radiação depende, entre outros fatores, de uma terminologia clara, precisa e alinhada às recomendações das principais entidades reguladoras da área, como a IAEA (International Atomic Energy Agency) e a ICRP (International Commission on Radiological Protection). Texto por Letícia Fröhlich - Física Médica NUCLEORAD   Referências: Hall, E. J., & Giaccia, A. J. (2019). Radiobiology for the Radiologist (8th ed.). Wolters Kluwer. Khan, F. M., & Gibbons, J. P. (2014). Khan's The Physics of Radiation Therapy (5th ed.). Lippincott Williams & Wilkins. IAEA. (2017). Radiation Protection and Safety of Radiation Sources: International Basic Safety Standards (GSR Part 3).      

Por Bruna em 24/04/2025 às 16:51
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Manutenção Preventiva x Manutenção Corretiva em Equipamentos Médicos de Radiodiagnóstico

A Física Médica é uma área essencial na interface entre tecnologia e saúde, sendo responsável, entre outras atribuições, por garantir a qualidade, a segurança e a eficácia dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos que envolvem radiações ionizantes. No contexto do radiodiagnóstico, que abrange equipamentos como raios X convencionais, mamógrafos, tomógrafos computadorizados e sistemas digitais de imagem, a manutenção adequada dos equipamentos é vital para assegurar tanto a precisão dos diagnósticos quanto a proteção radiológica de pacientes, profissionais e do ambiente. Nesse cenário, destaca-se a importância da distinção e da aplicação adequada de dois tipos fundamentais de manutenção: a manutenção preventiva e a manutenção corretiva. Manutenção Preventiva: A Atuação Proativa A manutenção preventiva consiste em um conjunto de ações sistemáticas e planejadas, com o objetivo de preservar o funcionamento ideal dos equipamentos, antecipando falhas e reduzindo a probabilidade de interrupções. Envolve inspeções periódicas, testes de desempenho, calibrações, limpeza de componentes, atualizações de software e substituições programadas de peças críticas, conforme recomendações dos fabricantes e normas técnicas. Do ponto de vista da Física Médica, essa abordagem é essencial por diversas razões. Primeiramente, equipamentos de radiodiagnóstico devem operar dentro de parâmetros rigorosos de qualidade da imagem e de dose de radiação. A atuação do físico médico, por meio de testes de controle de qualidade, permite verificar se o sistema está entregando imagens diagnósticas com resolução, contraste e ruído adequados, e se a dose administrada ao paciente está dentro dos limites aceitáveis. A manutenção preventiva garante, portanto, a repetibilidade e a reprodutibilidade desses parâmetros, além de contribuir para a segurança radiológica. Além disso, a prevenção de falhas evita a exposição desnecessária de pacientes a exames repetidos devido a imagens de má qualidade, o que se traduz em menor dose acumulada e menor risco de efeitos estocásticos. Outro ponto crítico é a continuidade dos serviços de imagem: a parada inesperada de um tomógrafo, por exemplo, pode comprometer rotinas clínicas, causar atrasos em diagnósticos importantes e sobrecarregar outros setores do hospital. A manutenção preventiva é, portanto, uma prática que alinha eficiência operacional e cuidado centrado no paciente. Manutenção Corretiva: A Resposta à Falha Já a manutenção corretiva é aquela realizada após a ocorrência de uma falha. Embora inevitável em certos contextos, ela reflete uma postura reativa, onde o problema já causou impactos clínicos, técnicos ou operacionais. A depender da gravidade da falha, o tempo de inatividade do equipamento pode ser elevado, exigindo recursos adicionais, como deslocamento de pacientes para outros centros, remarcação de exames e, em casos extremos, prejuízos diagnósticos. No campo da Física Médica, a manutenção corretiva representa um desafio, pois exige, muitas vezes, uma revalidação completa do equipamento antes de sua reinserção na rotina clínica. Isso inclui a repetição de testes de aceitação e controle de qualidade, verificação da calibração dos sistemas de dose e, eventualmente, a investigação de possíveis exposições acidentais. Além disso, a ocorrência de falhas pode ser indicativo de fragilidades na gestão tecnológica da instituição, como ausência de um programa estruturado de manutenção preventiva, falhas na capacitação da equipe técnica ou limitações orçamentárias. A escolha entre manutenção preventiva e corretiva não deve ser vista como uma simples decisão operacional, mas sim como parte de uma política abrangente de gestão de tecnologias em saúde, na qual a Física Médica desempenha um papel estratégico. A atuação do físico médico, em parceria com a engenharia clínica e os fabricantes, é essencial para definir protocolos de manutenção alinhados com as normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e de organismos internacionais como a IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica). Em resumo, a manutenção preventiva é a melhor aliada da segurança, da qualidade e da sustentabilidade no uso de tecnologias de imagem médica. Embora a manutenção corretiva seja, por vezes, necessária, sua ocorrência deve ser minimizada por meio de uma abordagem proativa, baseada em evidências e sustentada por uma equipe multiprofissional capacitada. Nesse contexto, a Física Médica não apenas atua como guardiã da segurança radiológica, mas também como promotora da excelência técnica e clínica no uso dos equipamentos de radiodiagnóstico.   Texto elaborado por Bruna Vitola Lovato – Física Médica NUCLEORAD  

Por Bruna em 16/04/2025 às 09:33
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Cirurgias com Marcadores Não Invasivos e Não Radioativos: O Futuro da Visualização Médica

Na busca por métodos cada vez mais seguros e eficazes, a medicina tem avançado significativamente no desenvolvimento de técnicas de imagem que dispensam tanto o uso de radiação ionizante quanto procedimentos invasivos. Um dos campos que mais se beneficia dessas inovações é a cardiologia, onde marcadores não invasivos e não radioativos vêm sendo estudados e aplicados para a visualização funcional e anatômica do coração com alta precisão e segurança [1]. Tradicionalmente, a obtenção de imagens cardíacas funcionais envolvia o uso de radiofármacos em exames como PET e SPECT, que embora forneçam informações valiosas, exigem exposição à radiação e preparo específico do paciente. Além disso, muitas dessas abordagens demandam inserção de cateteres ou injeções, o que pode representar riscos, desconforto e limitações para pacientes com contraindicações. Diante desse cenário, tecnologias emergentes vêm propondo o uso de propriedades fisiológicas naturais do próprio corpo como "marcadores" — por exemplo, a movimentação e concentração de íons, como o sódio (Na⁺), ao longo de processos celulares normais [2]. A bomba de sódio-potássio (Na⁺/K⁺-ATPase) é um componente essencial das células miocárdicas, responsável por manter o equilíbrio eletroquímico e a excitabilidade do tecido cardíaco. Durante a atividade celular normal, a concentração de sódio intracelular é rigidamente controlada, e qualquer alteração, como ocorre em casos de isquemia ou inflamação, pode indicar sofrimento ou dano tecidual. Técnicas de imagem que detectam a distribuição de íons sódio são capazes de capturar essas alterações fisiológicas de forma não invasiva. Um exemplo disso é a ressonância magnética de sódio (Na-MRI), que permite mapear a concentração de sódio no tecido cardíaco em tempo real [3]. Na-MRI funciona de maneira semelhante à ressonância magnética convencional, mas em vez de detectar os sinais emitidos pelos prótons (átomos de hidrogênio) presentes na água, o sistema é ajustado para captar os núcleos de sódio-23. Como o sódio está presente em concentrações muito menores do que o hidrogênio, essa técnica exige equipamentos com alto campo magnético e bobinas específicas. Ainda assim, os avanços recentes têm tornado essa abordagem cada vez mais viável na prática clínica e na pesquisa. Com ela, é possível visualizar regiões do coração com disfunção celular, mesmo antes de ocorrerem alterações anatômicas visíveis — uma vantagem significativa em relação a métodos tradicionais [3]. Além da Na-MRI, outras técnicas não invasivas que utilizam contrastes alternativos, como fluoróforos ligados a processos metabólicos ou marcadores magnéticos sensíveis a variações de pH e fluxo sanguíneo, também estão sendo desenvolvidas. Essas abordagens visam destacar áreas específicas do tecido sem a necessidade de radiação ionizante, tornando os exames mais seguros e repetíveis ao longo do tempo. Em muitos casos, essas imagens podem ser combinadas com inteligência artificial e algoritmos de reconstrução para oferecer um detalhamento ainda maior das estruturas anatômicas e funcionais [4]. Essas técnicas também possibilitam a avaliação de condições cardíacas complexas com mais precisão, como a detecção precoce de miocardiopatias, a diferenciação entre tecido viável e tecido necrótico, e o monitoramento da eficácia de terapias farmacológicas ou intervencionistas. Além disso, são especialmente vantajosas em grupos vulneráveis, como gestantes, crianças e pacientes com doenças crônicas, que necessitam de monitoramento frequente sem os riscos associados à exposição acumulada à radiação [1]. Embora ainda estejam em processo de validação para uso rotineiro, as imagens obtidas com marcadores não invasivos e não radioativos representam um avanço importante na medicina moderna. Ao transformar processos fisiológicos em fontes de contraste naturais, essas tecnologias aliam precisão, segurança e conforto, abrindo caminho para um novo paradigma na cardiologia e em outras áreas da saúde. O futuro da imagem médica pode ser cada vez mais integrado à biologia molecular e menos dependente de métodos invasivos — e esses marcadores são um passo crucial nessa direção.   Texto elaborado por Eduardo Berna – Estágiario NUCLEORAD  

Por Bruna em 09/04/2025 às 16:06
Radiologia Médica Odontológica e Veterinária
Os Tipos de Radiação e Suas Aplicações na Medicina

A radiação está presente em diversas áreas da ciência e tecnologia, sendo amplamente utilizada na medicina para diagnóstico e tratamento. Dependendo da sua energia, a radiação pode ser classificada como ionizante ou não ionizante. A radiação ionizante possui energia suficiente para remover elétrons dos átomos, modificando estruturas celulares e podendo causar efeitos biológicos relevantes. Já a radiação não ionizante não tem essa capacidade, mas ainda pode interagir com os tecidos biológicos e ser utilizada em diversas aplicações médicas. Radiação Não Ionizante e sua Aplicação na Medicina A radiação não ionizante possui menor energia e não é capaz de ionizar átomos, mas pode excitar moléculas e produzir efeitos biológicos como aquecimento e mudanças na orientação molecular. Principais tipos de radiação não ionizante: Ondas de rádio e micro-ondas São usadas na ressonância magnética (RM), uma técnica essencial para a obtenção de imagens de tecidos moles sem a necessidade de radiação ionizante. O princípio da RM baseia-se na interação de campos magnéticos intensos com os prótons presentes no corpo humano. Esses prótons, ao serem estimulados por ondas de rádio, emitem sinais que são convertidos em imagens detalhadas dos órgãos e tecidos. Infravermelho (IV) Utilizado em termografia médica para detectar variações de temperatura na pele, ajudando no diagnóstico de inflamações e problemas circulatórios. Luz visível Utilizada em fototerapia para o tratamento de icterícia neonatal, por exemplo. A grande vantagem da radiação não ionizante é sua segurança relativa, permitindo o uso contínuo sem os riscos associados à exposição prolongada à radiação ionizante. Radiação Ionizante: Tipos e Aplicações Médicas A radiação ionizante tem energia suficiente para remover elétrons dos átomos, podendo causar alterações celulares. Esse efeito pode ser explorado tanto para fins diagnósticos quanto terapêuticos. Radiação Eletromagnética Ionizante Este tipo de radiação se propaga na forma de ondas e não possui massa nem carga elétrica. Raios X São amplamente utilizados na radiologia em exames como tomografia computadorizada, raios X, mamografia, hemodinâmica e densitometria óssea para a obtenção de imagens internas do corpo. Os raios X possuem um alto poder de penetração e são absorvidos em diferentes graus pelos tecidos, permitindo a visualização de ossos, órgãos e estruturas anatômicas. Raios Gama (y) Possuem energia ainda maior que os raios X e são empregados em radioterapia para o tratamento de câncer, além de serem utilizados em exames de medicina nuclear, como a cintilografia e a tomografia por emissão de pósitrons (PET). Radiação Corpuscular Ionizante Diferente da radiação eletromagnética, a radiação corpuscular é composta por partículas que possuem massa e, em alguns casos, carga elétrica. Partículas Alfa (a) São formadas por dois prótons e dois nêutrons. Apesar de terem baixo poder de penetração, são altamente ionizantes. São usadas em terapias direcionadas para câncer, como em radionuclídeos que emitem partículas alfa para destruir células tumorais sem afetar tecidos saudáveis. Partículas Beta (b) São elétrons (b⁻) ou pósitrons (b⁺) emitidos por núcleos radioativos. Na medicina, são utilizadas em radiofármacos para tratamento de câncer e na terapia com iodo-131 para o tratamento do hipertireoidismo e câncer de tireoide. Nêutrons São partículas sem carga elétrica e com alto poder de penetração. Sua principal aplicação médica é na captura neutrônica em boro (BNCT), um tipo inovador de radioterapia que destrói células tumorais de forma seletiva. Pósitrons Utilizados na tomografia por emissão de pósitrons (PET), um exame que permite a observação da atividade metabólica dos tecidos e é essencial no diagnóstico precoce de câncer e doenças neurológicas. A radiação desempenha um papel fundamental na medicina, tanto no diagnóstico quanto no tratamento de diversas doenças. A radiação não ionizante, como as ondas de rádio utilizadas na ressonância magnética, permite exames seguros e não invasivos. Já a radiação ionizante, incluindo os raios X e a radiação corpuscular, tem aplicações cruciais no diagnóstico por imagem e na terapia do câncer. O avanço das tecnologias baseadas em radiação continua permitindo maior precisão, eficácia e segurança nos procedimentos médicos, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.   Texto elaborado por Letícia Fröhlich – Física Médica NUCLEORAD   Referências: [1] Okuno, E., & Yoshimura, E. M. (2010). Física das Radiações. São Paulo: Oficina de Textos. ISBN: 978-85-7975-005-2. [2] Bushberg, J. T., Seibert, J. A., Leidholdt, E. M., & Boone, J. M. (2011). The Essential Physics of Medical Imaging (3rd ed.). Lippincott Williams & Wilkins. ISBN: 978-0781780575.

Por Bruna em 02/04/2025 às 09:54
Eventos e Notícias
Nanotecnologia desenvolvida na USP substitui agente de contraste por composto mais eficiente e seguro

Uma equipe de pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da USP, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP desenvolveu uma nova tecnologia capaz de substituir o composto utilizado nos contrastes comerciais aplicados em procedimentos de obtenção de imagem para diagnóstico clínico – como a ressonância magnética e, especialmente, a angiografia. A tecnologia recém-descoberta baseia-se em nanopartículas ultrapequenas, feitas de dióxido de titânio e revestidas por óxido de ferro (UPN). Pesquisas recentes na área da nanotecnologia vêm explorando alternativas aos agentes de contraste convencionais utilizados em ressonância magnética (RM), especialmente aqueles à base de gadolínio, que podem apresentar riscos de toxicidade e acúmulo no organismo. Os compostos atualmente disponíveis no mercado podem provocar efeitos nefrotóxicos, principalmente no caso de pacientes com insuficiência renal grave, além da deposição de gadolínio em diferentes órgãos. Os testes realizados em modelos animais indicaram uma excelente biocompatibilidade do material – ou seja, ele não apresentou toxicidade a diferentes tecidos biológicos – e eliminação pela urina, além de gerar um realce de contraste forte e prolongado, graças à sua estrutura e composição. Outra vantagem conquistada pelos pesquisadores foi a possibilidade de manter os mesmos protocolos clínicos já estabelecidos para a aplicação do contraste à base de compostos de gadolínio, facilitando sua adoção na prática clínica. Segundo Koiti Araki, professor do Departamento de Química Fundamental do IQ e coordenador do Laboratório de Química Supramolecular e Nanotecnologia, a mudança de protocolos envolve práticas já bastante consolidadas e quantidades expressivas de investimentos – seja para testar uma nova metodologia, seja para treinar todas as equipes de profissionais envolvidos em sua execução. Assim, é essencial priorizar o mínimo de mudanças com o máximo de benefícios possível para inserir ou substituir qualquer produto inovador no mercado. A ressonância magnética é um exemplo de técnica de diagnóstico por imagem não invasiva, que fornece informações detalhadas sobre os órgãos, vasos e outros tecidos do paciente. Funciona como uma foto, só que “de dentro para fora”. Para detectar lesões ou anomalias com maior precisão, a resolução da imagem é comumente melhorada por compostos denominados “agentes de contraste” — uma vez que estes permitem destacar determinadas regiões que se deseja observar no exame clínico. De maneira simplificada, existem dois tipos de agentes de contraste. Um deles, popularmente chamado de “contraste negativo”, faz com que o órgão ou tecido destacado apareça mais escurecido na imagem. O outro, por sua vez, é conhecido como “contraste positivo” e seu efeito é oposto: ele deixa o local de destaque mais brilhante do que o entorno. Há um consenso de que o segundo tipo de agente tem melhor resolução do que o primeiro, já que permite que o órgão em observação seja mais facilmente diferenciado do restante dos tecidos. Por isso, o produto comercialmente utilizado hoje, feito à base de uma substância chamada gadolínio (Gd), é um agente de contraste do tipo positivo. Até o momento, muitos grupos de pesquisadores em diferentes países tentaram encontrar substitutos adequados ao gadolínio, que mantivessem tanto as propriedades de resolução do agente de contraste quanto resolvessem o problema da toxicidade. Porém, as melhores soluções encontradas foram contrastes do tipo negativo, somente – o que não se mostrou tão vantajoso do ponto de vista clínico e comercial. Segundo o professor Koiti, que também é um dos autores do estudo, havia uma dificuldade em conseguir a qualidade e a biossegurança no mesmo material, porque isto não é algo simples de se obter. No entanto, após quase uma década de pesquisa, o grupo encontrou o que parece ser a fórmula ideal. A nanopartícula que compõe o novo agente de contraste é feita de dióxido de titânio e decorada com óxido de ferro. Os dois compostos são essenciais, explica Koiti, porque sem um dos elementos o agente perde as propriedades que o fazem brilhar e ter a melhor resolução possível. Além disso, tanto o ferro quanto o titânio são biocompatíveis e excretados naturalmente pelo organismo, o que reforça a questão central da segurança no objetivo de pesquisa do grupo. Por fim, outra característica observada nos testes foi que, ao comparar o novo material com o agente de contraste tradicional, o produto à base de nanopartículas teve um tempo de circulação médio duas vezes maior. Isto significa que a substância, após injetada, permanece na circulação sanguínea do paciente por um tempo prolongado até ser completamente eliminada – o que pode ser vantajoso, no caso de exames que requerem a visualização de vasos sanguíneos, como é o caso da angiografia.   Texto elaborado por Bruna Vitola Lovato – Física Médica NUCLEORAD   Referências: [1] Nanotecnologia desenvolvida na USP substitui agente de contraste por composto mais eficiente e seguro. Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/nanotecnologia-desenvolvida-na-usp-substitui-agente-de-contraste-por-composto-mais-eficiente-e-seguro/. Acesso em: 07 de março de 2025. [2] Kawassaki RK, Romano M, Klimuk Uchiyama M, Cardoso RM, Baptista MS, Farsky SHP, Chaim KT, Guimarães RR, Araki K. Novel Gadolinium-Free Ultrasmall Nanostructured Positive Contrast for Magnetic Resonance Angiography and Imaging. Nano Lett. 2023 Jun 28;23(12):5497-5505. doi: 10.1021/acs.nanolett.3c00665. Epub 2023 Jun 10. PMID: 37300521; PMCID: PMC10312191.

Por Bruna em 12/03/2025 às 09:58